Esperada geralmente para o mês de agosto, a campanha nacional de vacinação contra a poliomielite será adiada e também passará por mudanças. Neste ano, a vacina passa a ser indicada apenas para crianças entre seis meses e cinco anos que não tenham tomado até agora todas as doses recomendadas para proteção.
A ideia, assim, é incentivar a atualização da carteira de vacinação, sem fazer com que a vacina oral, a famosa “gotinha”, seja aplicada de forma indiscriminada para todas as crianças dessa faixa etária.
Para Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, o modelo anterior da campanha fazia com que muitos recebessem várias doses extras sem necessidade. “Não há muito sentido em fazer uma campanha de vacinação indiscriminada, vacinando quem já está vacinado, só para ter certeza que não falta ninguém”.
Antes esperada para agosto, a campanha de mobilização para a vacinação também deve ocorrer a partir da segunda quinzena de setembro. Inicialmente, o Ministério da Saúde informou que o motivo é os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, que ocorrem já no próximo mês.
A avaliação é que o evento poderia diminuir a adesão à vacina, além de demandar mais esforços da rede de saúde.
Falta de vacina
A reportagem teve acesso a um documento apresentado pela pasta a secretários de Saúde que, no entanto, afirma que o adiamento ocorreu por problemas de fornecimento e no cronograma do laboratório de Bio-Manguinhos, da Fiocruz, responsável pelas vacinas.
Questionado, o laboratório nega falta de vacinas e diz que o adiamento ocorre devido a mudanças na produção das vacinas contra a pólio neste ano, conforme nova orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Em nota, o Ministério da Saúde diz que as mudanças na campanha “não prejudicam a imunização da população”, uma vez que a poliomielite está erradicada no Brasil desde 1990 e que as doses necessárias para proteção estão garantidas.
A vacina contra a pólio é aplicada em três doses injetáveis, no 2º, 4º e 6º mês de vida do bebê. Em seguida, são indicadas duas doses de reforço da versão oral, a gotinha, aos 15 meses e aos 4 anos.
Adolescentes
A campanha de vacinação também terá outras alterações. A ideia é fazer com que a mobilização nos postos de saúde não seja restrita apenas para garantir a proteção completa das crianças contra a poliomielite, mas também voltada à atualização da vacinação de crianças e adolescentes de 9 a 14 anos contra outras doenças – em caso de doses esquecidas ou a vencer, por exemplo.
Meninas, por exemplo, poderão receber a imunização contra o HPV, que protege contra câncer de colo de útero. “É uma campanha de multivacinação. A novidade é que não será só para crianças, mas também para adolescentes, que é um público em que as taxas [de vacinação] baixam muito. Precisamos mudar essa cultura de que vacinação é só para crianças”, diz Renato Kfouri.
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