Não vou falar do caso do Instituto Royal. Há dúvidas e emoção demais para que se possa discutir o que houve com alguma racionalidade. As descrições dos ativistas sobre o que acontecia lá dentro têm sido tão contestadas quanto as descrições dos cientistas. Além do mais, não sou nem quero ser advogado de nenhuma das partes. O que interessa discutir é a causa dos direitos animais.
Está claro que nossa sociedade está disposta a enfrentar maus-tratos contra os animais. É um avanço. Quanto menos ficarmos indiferentes à dor dos outros (inclusive dos animais), maior a chance de que nos tornemos boas pessoas. Difícil imaginar uma pessoa boa (eticamente falando) que saia chutando cachorros na rua.
No entanto, o ardor dos defensores dos animais tem chegado a novos limites e a invasão do instituto é só mais um indício. E cada vez mais vai surgindo claramente a situação em que nossos direitos (os dos humanos) entram em conflito com os direitos dos animais.
Não há ingenuidade possível: vivemos num mundo de recursos limitados e de interesses conflitantes. Muitas vezes é preciso fazer escolhas éticas, políticas e econômicas.
E os ativistas não parecem dispostos a ceder: não veem motivo para conceder prioridade ao humano em absolutamente qualquer situação.
Só uma pergunta
Devemos abrir mão da pesquisa científica, da cura de doenças, se isso incluir algum sofrimento animal? Essa é só uma pergunta. Durante a semana, na internet, propus outras situações de conflito. Se um cão ataca um homem, não temos o direito de defender o homem?
Se temos um orçamento limitado, não temos direito de dar prioridade à saúde humana? É preciso lembrar que já há um projeto na Câmara criando o SUS Animal, tirando verbas do SUS humano.
A simples menção a uma prioridade para os humanos foi suficiente para surgirem os mais baixos e vis xingamentos. Interdita-se o diálogo como se a ideia de que o humano tenha um valor em si precisasse ser jogada no lixo imediatamente.
É um caminho perigoso, que abala nossos elos de solidariedade uns com os outros, questiona nosso próprio direito de sobrevivência e causa prejuízos reais a todos e a cada um de nós. No fim das contas, se o interesse é sermos melhores, não adianta salvarmos os beagles e esquecermos uns dos outros.