Em pouco menos de seis meses, o Paraná já tem mais mortes provocadas por gripe do que o registrado em todo o ano de 2013. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 74 mortes causadas por Influenza foram registradas até o início deste mês. Em 2013 inteiro, foram 65 óbitos.
O principal culpado é o vírus H1N1, que neste ano começou a circular com mais intensidade do que em anos anteriores. No Paraná, 70 mortes foram provocadas somente por esse vírus – das 74 registradas no ano. Em 2013 todo, foram 47 – um aumento aproximado de 30%.
Se levar em conta os dados em relação até o início de junho do ano passado, a quantidade de óbitos aumentou quase 12 vezes: foram seis óbitos por Influenza em 2015. Em 2014, registrou-se três mortes comparando os dados do mesmo período do ano.
Pelas séries históricas, essa é a primeira vez que há tantos casos nesta época do ano no estado. Uma mudança no comportamento dos vírus – provavelmente relacionada ao surto antecipado de Influenza no estado de São Paulo em 2016 – é apontada com um dos fatores para esse quadro.
“A maioria das epidemias de gripe acontece no inverno, pois os vírus se multiplicam melhor no frio. Mas nesse ano tivemos um surto em fevereiro. O vírus provavelmente foi trazido por pessoas que viajaram para países do Hemisfério Norte no início do ano, quando era inverno lá”, explicou o médico infectologista Clovis Arnes da Cunha, do Hospital Nossa Senhora das Graças.
Segundo dados do último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, o Paraná já registrou 564 casos de H1N1. Nesta mesma época do ano em 2015, haviam sido diagnosticados apenas três pacientes com o vírus.
A chefe do Centro de Epidemiologia da Secretaria da Saúde, Júlia Cordellini, diz que já há registros de mortes por H1N1 em 18 das 22 regionais de saúde do estado. “O H1N1 tem uma letalidade maior e neste ano há a predominância deste vírus. Em cada ano varia qual tipo de vírus pode predominar em relação aos outros”, explica.
Esses números são apenas de pacientes que desenvolveram a chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – uma complicação do sistema respiratório, que pode ou não estar relacionada com a gripe, monitorada pelos mecanismos de vigilância em saúde. Em todo o Paraná, já são 602 casos de SRAG causados por Influenza neste ano. No mesmo período em 2015, foram apenas 19 – um aumento de quase 32 vezes.
Monitoramento
Para tentar monitorar essas variações do vírus é realizado o programa Vigilância Sentinela que objetiva identificar os principais vírus influenza circulantes e de outros vírus respiratórios para que medidas preventivas sejam adotadas. Segundo Juliane Oliveira, diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria da Saúde de Curitiba, o monitoramento é feito durante o ano todo. “É feita a coleta de secreção respiratória de alguns pacientes para conhecer qual vírus prevalece no momento”, explica.
A infectologista do Hospital de Clínicas da UFPR, Marta Fragoso, destaca que não é possível, ainda, definir com precisão as características do vírus influenza predominante em 2016, pois a coleta de amostras é recente e está sob análise.
Segundo Marta, as diferenças epidemiológicas de um ano para outro não são atípicas. “O perfil epidemiológico muda mesmo. Em cada ano, uma cepa específica pode ser mais predominante do que outra. Mas a presença maior do H1N1 é mais comum em todos os períodos”, disse. Ela também considera o surto de gripe ocorrido em SP como a causa do aumento de casos. “O contágio começou mais cedo, a sazonalidade do vírus foi antecipada”.
Doenças respiratórias
O número de mortes por Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) no Paraná já chega a 290, com mais de 2,9 mil casos. Neste número estão computados os óbitos por H1N1, outras infecções provocadas por Influenza, além de pneumonia, bronquiolite, asma grave, entre outras doenças. Veja outros dados no infográfico.
A maior parte das mortes deste ano ainda não foi especificada: 164 casos. Em 2015, nesta mesma época do ano, foram 92 óbitos e um total de 885 casos. Em 2013, foram registrados cinco mil casos de SRAG com 517 óbitos.
Um paciente que enfrenta SRAG é Gabriel do Amaral, de 9 anos. A mãe, Edileuza, conta que o menino passou por uma cirurgia para retirar um tumor no pulmão há alguns anos. “A partir daí ele começou a sofrer com muita asma, já foi internado várias vezes, e agora pegou uma gripe muito forte, mas já está se recuperando”, disse a mãe.