O som da rua, dos carros, das músicas, da voz da mãe. Tudo é novidade para a pequena Taciane Ramos Gonçalves, de 5 anos, de Curitiba, a criança que aparece em um vídeo viral postado no Facebook nesta semana. As imagens mostram a reação emocionante da menina ao ouvir um som pela primeira vez, após passar por um implante coclear no Hospital Pequeno Príncipe. Até o início da tarde desta sexta-feira (23), o vídeo já havia recebido mais de 3,1 mil curtidas e tinha mais de 1,8 mil compartilhamentos.
Taciane nasceu saudável, relata a mãe, a dona de casa Priscila Ramos, de 28 anos. Foi aos dois anos de idade, no entanto, que a menina começou a ter febres, que os médicos associaram a uma virose. Mas, alguns meses depois, veio o diagnóstico de surdez profunda. “Me disseram no Hospital das Clínicas que provavelmente ela teve uma meningite que se recolheu e deu uma perda auditiva. Foi uma notícia difícil de acreditar”, recorda Priscila.
A partir disso, Taciane e a família tiveram de aprender a se comunicar pela Língua Brasileira de Sinais (Libras) e leitura labial. Contudo, a rotina da menina era normal.Ela foi para a escolinha e fez amigos.
É com a irmã Kauane, de 10 anos, que ela se divide entre brincadeiras de boneca e pique esconde. Paralelo a isso, a mãe não desistiu de buscar uma alternativa que ajudasse a filha a ouvir. “Ela foi para a fila do aparelho auditivo, mas estava demorando muito. Resolvi ir no postinho de novo, para encaminharem para o Pequeno Príncipe. Fizeram outros exames e depois de seis meses ela estava com aparelho”, conta Priscila.
A prótese, contudo, não foi suficiente para que Taciane escutasse os sons à sua volta. Por se tratar de um quadro de surdez profunda, explica a mãe, ela teria que passar por um implante coclear. A cirurgia ocorreu no dia 26 de julho deste ano, e ativação do aparelho foi feita na última semana.
“Ela está muito feliz. Escutou pela primeira vez o barulho do gatinho e do cachorro que temos. Está tentando falar, mas ainda faz sinais para nós. Acho que ainda não acredita que pode ouvir”, diz a mãe, emocionada. Ela afirma não que não imaginava ver a filha se recuperando tão rápido. “Eu tinha entregado o caso dela nas mãos de Deus, porque eu a continuaria amando do mesmo jeito. Esses dias sonhei que ela estava ouvindo. Meu sonho se realizou”, completa Priscila.
Linguagem
Taciane deve passar agora por um trabalho de fonoaudiologia para desenvolver a fala. Segundo a otorrinolaringologista Tríssia Vassoler, que acompanhou o caso da criança no Hospital Pequeno Príncipe, a paciente aprenderá a transformar em memória auditiva e linguagem o que ouvir com o implante. “Ela vai amplificar a linguagem e todos esses processos”, comenta.
A médica explica que a cirurgia de implante coclear costuma ser realizada um mês antes da ativação do aparelho. O teste do implante ocorre pela primeira vez ainda com o paciente sedado, no ato operatório. Depois, é aguardada a cicatrização para ocorrer a ativação, o momento em que se busca um volume confortável para o paciente. “Como o aparelho fará a tradução da energia sonora em energia elétrica, não podemos ligar tudo de uma vez. A criança precisa se acostumar com essa energia”, assinala Tríssia.
Considerada extremamente delicada, a cirurgia de implante coclear dura cerca de duas horas e meia e é indicada para crianças ou adultos que tiveram perda auditiva severa ou profunda. Nestes casos, os pacientes precisam já ter tentando usar a prótese auditiva convencional, porém sem melhoria.
O Hospital Pequeno Príncipe realiza, em média, uma cirurgia deste tipo por mês através do Sistema Único de Saúde (SUS). A instituição é o único hospital exclusivamente pediátrico a oferecer o procedimento gratuitamente no Brasil.
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