Um esquema de fraudes transformava cachorros ‘vira-latas’ apanhados nas ruas em cães de raça para venda pela internet por preços elevados, em Sorocaba, interior de São Paulo. As vítimas dos golpes só descobriam a falsificação quando levavam os animais ao veterinário. Em alguns casos, os cachorros tiveram os pelos pintados e foram submetidos a mutilações, como cortes na orelha e no rabo, para se parecerem com animais de raça. As fotos eram postadas em redes sociais para atrair compradores. A entrega era feita em estacionamentos de shoppings ou na casa dos compradores, quase sempre mulheres.
O esquema começou a ser investigado depois que pelo menos seis desses cães foram levados à Fundação Alexandra Schlumberger, organização não-governamental de proteção animal da cidade. “Observei que alguns cãezinhos sem raça tinham passado por microcirurgias para ficarem parecidos com chihuahua, pinscher e fila. Um deles tinha uma tala para deixar a orelha empinada e outros tiveram rabo ou orelha cortados, mas sem nenhuma técnica”, contou o veterinário Tiago José Gasparini.
Segundo ele, alguns filhotes foram desmamados antes do tempo para serem vendidos, já que as características estão menos evidentes nessa idade. “Para enganar o comprador, as pessoas postavam fotos de animais de raça tiradas da internet alegando que eram os pais do filhote.” Gasparini conta que uma das vítimas adquiriu o cãozinho como se fosse um chihuahua.
“Semanas depois, ela observou que ele crescia demais e tinha tanta fome que comia até formiga. Quando me trouxe, eu logo vi que não era o que ela imaginava. Ela ficou revoltada, mas envergonhada por ter sido enganada tão facilmente.”
A fundação apurou que, além das ruas, alguns animais eram procedentes de feiras de adoções. “Tudo indica que essas pessoas se apresentam como cuidadoras, mas na verdade estão interessadas em fazer o comércio ilegal”, disse Gasparini. Para o veterinário, as pessoas que compraram os cachorros também têm culpa, pois pagaram preço muito abaixo do real. “Um falso chihuahua foi vendido por R$ 300, sendo que o preço varia entre R$ 800 e R$ 1.500. A pessoa devia desconfiar.” Segundo ele, é preciso ver a procedência do animal, exigir documento fiscal no caso de criadouros ou fazer um contrato, de preferência com assistência profissional. “Um cão não é uma mercadoria”, afirmou.
A Polícia Civil abriu inquérito para apurar crimes de estelionato e maus-tratos a animais. Uma mulher suspeita de participar da fraude foi ouvida nesta terça-feira (2) no 2º Distrito Policial, mas negou participação. Ela seria autora de uma postagem em que ameaça uma compradora que reclamou por ter sido enganada. A suspeita alegou que teve um perfil em rede social adulterado e usado indevidamente por outras pessoas. Uma perícia vai determinar se ela falou a verdade. Outros suspeitos e as vítimas da fraude já identificados também serão ouvidos.
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