Abel Braga faz várias mudanças no Internacional| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Boa conduta

Especialistas em administração de condomínios dão algumas dicas para que o excesso de barulho seja evitado. Eles acreditam que na maioria dos casos os ruídos podem ser extintos com medidas simples e fáceis.

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Cidade faz mais barulho do que o aceitável

Em outro estudo, pesquisadores da UFPR chegaram à conclusão de que 93,4% dos pontos medidos em Curitiba estavam acima do limite de exposição acústica indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O máximo fixado é de 65 decibéis (dBA) – escala usada para a avaliação do ruído.

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Pior que o barulho do trânsito, gerado por carros, ônibus e até trens, só mesmo o barulho que vem da casa ao lado. Uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), de 2002, mostrou que nada tira mais o curitibano do sério do que a bagunça dos vizinhos associada ao ruído de animais, sirenes e construções. "A população aumentou e, conseqüentemente, os ruídos de vizinhança também", explica o coordenador do Laboratório de Acústica Ambiental-Industrial e Conforto Acústico da UFPR e responsável pela pesquisa, Paulo Henrique Trombetta Zannin.

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Todas as 860 pessoas entrevistadas em Curitiba apontaram pelo menos um dos itens da vizinhança como geradores de barulho (vizinhos, animais, sirenes, construção civil, templos religiosos, casas noturnas, brinquedos e eletrodomésticos). "As fontes de ruído agrupadas como geradas na vizinhança são mais significativas para a comunidade que o ruído do trânsito", afirma o professor. O trânsito foi apontado por 73% dos entrevistados.

Todo esse barulho pode estar afetando a saúde do curitibano: 58% dos entrevistados disseram ficar irritados com o barulho, 42% têm baixa concentração, 20% sofrem de insônia e 20% têm dor de cabeça.

Não são as casas noturnas nem templos religiosos que mais incomodam, mas o próprio cidadão que mora ao lado. "Parece que a minha vizinha do apartamento de cima faz mudança toda noite. Na quinta-feira fui dormir à 01h30", reclama a aposentada Terezinha Maria Simonato, de 73 anos. As tentativas de conversar e resolver o problema acabaram frustradas.

É no momento de conflito que entra a figura do síndico para apaziguar os ânimos. "Há aqueles que se incomodam por um barulho mínimo e os que não respeitam o silêncio", explica a síndica Siomara Freitas Kaltowski. Ela comanda um maiores condomínios de Curitiba, o Parque Residencial Fazendinha, com 32 prédios e 2,6 mil moradores e ouve reclamações diárias de barulho. As mais comuns são a vizinha que anda de salto alto e os moradores que deixam o cachorro o dia todo sozinho no apartamento. "Tem também o que chamo de ‘barulho noturno’, quando as pessoas vêm aqui reclamar do casal de cima durante a noite", diverte-se.

Os condomínios tentam criar algumas regras de convivência. A primeira é conversar com o vizinho barulhento. Se não funcionar, envia-se uma notificação por escrito. O último recurso é a multa. "Cobramos R$ 50. Se houver reincidência, reaplico a multa", diz Siomara. Na opinião do proprietário de uma empresa que administra condomínios, Paulo César Dantas, se houver a reclamação de mais de um vizinho é porque o ruído já está incomodando. Ele lembra de um caso em que o morador chegou a vender o apartamento por causa do incômodo que a vizinha causava ao tocar piano. Como síndico do prédio, Dantas intermediou a discussão. "A função do síndico é essa mesmo, mediar os conflitos que aparecem."

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Para os que moram em casas, porém, muitas vezes a saída é chamar a polícia. Foi o que fizeram por cinco vezes, em menos de seis meses, os vizinhos de uma república de estudantes, no bairro Jardim das Américas. Após festas que duraram a noite toda e já reuniram 115 pessoas no imóvel, os cinco universitários pretendem mudar de atitude. "O vizinho da casa ao lado falou que estava estudando para um concurso num sábado à tarde e baixamos o som. Seria bom se eles viessem até nós para conversar", opina o estudante André Marega Pinhel, 21 anos.

Para o advogado paulista Waldir Miranda, autor do livro Perturbações Sonoras Nas Edificações Urbanas, a conscientização da população sobre os danos causados pelo barulho excessivo tem aumentado. Especialista em locação predial, Miranda pesquisou as leis e decisões judiciais brasileiras sobre o assunto. "A lei do Brasil é muito rigorosa, mais do que a americana e as de países europeus. O duro é que ninguém vai atrás."