A atual crise econômica e a recente desintegração do sistema de transporte da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) são exemplos de que a melhoria na qualidade de vida da população brasileira na década passada se baseou em fatores conjunturais, e não em mudanças estruturais significativas. No começo de setembro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou uma publicação que mostra que a vulnerabilidade social do país caiu 27% entre 2000 e 2010, mesmo índice observado na RMC. O avanço, porém, se baseou no aumento de renda da população, que está comprometido agora em 2015, com o crescimento do desemprego.
“Se olharmos o índice de desocupados de 2000 e o de 2015, será muito semelhante. Isso mostra que a queda na vulnerabilidade representou um momento da conjuntura brasileira”, observa a pesquisadora do Observatório das Metrópoles Rosa Moura, que também é bolsista do Ipea.
Além disso, o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) leva em conta, em um de seus componentes, o tempo de deslocamento entre o trabalho e a casa das pessoas com renda domiciliar mais baixa. O desempenho da RMC já era ruim em 2010. “Seria bem pior se fosse feita uma atualização com os dados de 2015. O que aconteceu com o transporte público aqui é lastimável, é terrível. Vai contra todas as iniciativas buscadas para ou resolver o problema de deslocamento ou pelo menos otimizar os recursos existentes”, diz Rosa.
Segundo a pesquisadora, todas as regiões metropolitanas do Brasil têm serviços precários de infraestrutura urbana, como saneamento básico e transporte. Ela ressalta, porém, que a divergência entre a prefeitura de Curitiba e o governo do estado, que acabaram com a integração dos ônibus na Grande Curitiba, foi um grande retrocesso. “Quando estávamos na batalha por um bilhete único, para integração temporal, acontece isso. O sistema já era ruim, porque fazia só a ligação do município com a capital, sem possibilidade de circular pelas demais cidades”, explica.
Filas
Com integração ou não, os usuários da linha Curitiba/Rio Branco do Sul sempre enfrentaram problemas. O trajeto entre a capital e o município da RMC, distante 45 quilômetros, leva pelo menos uma hora e meia. A frequência de ônibus é insatisfatória e com isso os coletivos estão sempre lotados. Para evitar uma viagem desconfortável, as pessoas preferem esperar até meia hora na fila. No meio da tarde de uma segunda-feira, fora do horário do rush, o ponto na Praça 19 de Dezembro já tem três filas. “Tem gente que estuda, que tem família, que não pode ficar esperando, tem que ir de pé no aperto mesmo”, conta o autônomo Cristian Lourenço, 35 anos.