O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), iniciou seu pronunciamento nesta terça-feira (16) no plenário afirmando não ser o culpado pela crise administrativa na Casa. Sarney afirmou que os problemas são de toda a Casa e não relativos a sua pessoa.
"A crise do Senado não é minha. A crise é do Senado e é esta instituição que nós devemos preservar", disse Sarney.
Ele afirmou que nos quatro meses do seu mandato atual na presidência do Senado só trabalhou para resolver os problemas administrativos da Casa. Citou a questão das horas extras, das passagens aéreas, entre outras denúncias.
Sarney afirmou que nunca teve antes seu nome envolvido em qualquer escândalo em seus 60 anos de vida pública. "Não seria agora na minha idade que eu iria praticar qualquer ato menor, que eu nunca pratiquei na minha vida. Assisti muitos escândalos e momentos de crise e em nenhum momento meu nome esteve envolvido".
Fazendo um discurso duro, Sarney se emocionou ao mencionar a doença de sua filha Roseana Sarney (PMDB-MA), governadora do Maranhão. No início do mês, Roseana foi submetida a uma cirurgia de clipagem (fechamento) de um aneurisma cerebral. O procedimento foi realizado com "sucesso", segundo boletim divulgado após a cirurgia, que durou quatro horas.
Segundo Sarney, foi este problema que o impediu de dar dedicação integral ao Senado até agora. "Deus está me exigindo penitência destas coisas que eu tenho que falar agora, mas muito maior foi sua graça com a recuperação da melhor coisa que eu fiz da minha vida".
Falta de respeito
Mais ao fim de seu discurso, Sarney (PMDB-AP) classificou como falta de respeito as denúncias de que nomeações e exonerações de parentes seus tenham sido feitos por meio de atos secretos. Ele admitiu ter pedido emprego para uma sobrinha para o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e confirmou a versão do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) sobre a nomeação de um neto seu.
Sarney enfatizou sua história como o primeiro presidente após o fim da ditadura militar e questionou a gravidade das denúncias. "Depois disso agora me ver ser julgado porque uma neta minha, um neto meu (trabalhar no Senado), querer me julgar diante da opinião pública por isso é ter uma falta de respeito homens públicos que nós temos".
Ele afirmou que foi por ordem da Mesa Diretora que se criou a comissão que encontrou os atos não publicados. "Essa coisa que está se publicando aí só esta porque fomos nós que decidimos apurá-los. Se não tivéssemos tomado a atitude ficava como estava".
Sarney negou que existam atualmente atos secretos na Casa e disse que todos os anteriores já foram publicados. "Não sei o que é ato secreto, ninguém sabe. O que pode ter e tem de verificar é a irregularidade da entrada em rede ou não entrada em rede de atos. Tudo isto em relativo ao passado. Nada em relação ao nosso período. Não temos nada a ver com isso".
O presidente do Senado afirmou que o trabalho da comissão sobre os atos secretos já está concluído, mas que a divulgação só deve acontecer na próxima semana devido à cirurgia da qual se recupera o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), responsável pelo trabalho.
Em outro momento do discurso chamou as acusações contra ele de "injustas". "Não posso ser julgado assim. É uma injustiça julgar um homem como eu, com tantos anos de vida publica, vida austera, família bem composta, que preza a dignidade na carreira, que nunca um colega não teve gesto de cordialidade, nunca neguei voto no sentido avançarmos na melhoria da Casa".
Ele pediu apoio aos colegas para a adoção de medidas administrativas que melhorem o funcionamento da Casa. Disse ser favorável à proposta do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) de se publicar a lista de todos os funcionários do Senado. "Quem tiver uma boa idéia que me traga. Estamos prontos para fazer isso".
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