Apesar da campanha mal conduzida; apesar dos tropeços iniciais; apesar das pesquisas desfavoráveis; apesar da pobreza franciscana de recursos; apesar da falta de apoios declarados de forças políticas que poderiam ajudar; apesar do intenso trabalho de desconstrução de sua biografia que os adversários fizeram os eleitores de Curitiba deram, ontem, a Gustavo Fruet, a chance de continuar lutando pela conquista da prefeitura de Curitiba, agora confrontando-se, tão e só, diretamente com Ratinho Jr.
Resumo da história: sua apertada vitória sobre Luciano Ducci deu-se quase exclusivamente aos seus próprios méritos, à credibilidade que conquistou ao longo de sua história parlamentar e à inegável empatia de que goza de grande parte dos curitibanos. Foi, na prática, uma vitória pessoal de Gustavo ter chegado ao segundo turno uma meta que parecia muito distante até uma semana antes do pleito. Além dos ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo, poucos outros políticos se juntaram à reduzida, competente e voluntária equipe de campanha que Gustavo conseguiu montar. Por isso, é justo imaginar que teve significativo papel o Sobrenatural de Almeida o fictício personagem de Nelson Rodrigues que, no segundo final da campanha, deu o chute salvador ao gol.
Há mais "apesares" que Fruet teve de enfrentar nesses meses tensos antes e durante a campanha e que confirmam outra vez que a vitória que obteve sobre Ducci deve-se sobretudo a ele próprio. E aí vão alguns desses "apesares": apesar de ter sido alijado de seu partido, o PSDB, do qual era um dos melhores quadros; apesar de ter aderido ao PDT, um partido importante mas de quase nenhuma estrutura no Paraná; apesar de ter sofrido a rejeição de muitos em razão de sua aliança com o PT; apesar do pouco tempo de TV e rádio; apesar da inferior qualidade técnica e de marketing de seus programas eleitorais em relação às produções de seus adversários foram seus diferenciais pessoais que impuseram os 4.402 votos (0,45 pontos porcentuais) que o fizeram suplantar Ducci.
Agora começa a nova etapa da campanha: é Ratinho Jr., que com o prestígio alavancado pela considerável diferença de 7 pontos porcentuais sobre Fruet, será seu (único) oponente no segundo turno. E de novo se afigura uma batalha difícil para ambos os lados.
As derrotas de Beto Richa
Contra Fruet e a favor de Ratinho devem se juntar agora as forças políticas que apoiaram Ducci, Beto Richa à frente, ainda que discretamente. Para ele, mais importante do que ajudar na vitória de Ratinho Jr., é impor uma derrota a Fruet o candidato que, embora sendo de seu partido, ele rejeitou para optar pelo nome de seu vice, embora de outra legenda, o PSB. Vindo de duas eleições amplamente vitoriosas e em primeiro turno (em 2008, a prefeito, obteve 77% dos votos; e em 2010, com 55%, derrotou o oponente Osmar Dias), Beto achava que bastava seu prestígio para garantir a vitória do afilhado. Enganou-se. Sequer conseguiu levá-lo ao segundo turno.
Empenhado no projeto de sua própria reeleição em 2014, Beto esperava larga vitória em Curitiba. No interior, por sua orientação, o PSDB também não lançou candidatos próprios nos grandes colégios eleitorais, preferindo apoiar representantes de partidos aliados, com os quais o governador pretendia formar uma ampla base de apoio em favor de sua reeleição.
Não colheu o sucesso que esperava: em Londrina, o candidato do PP, Marcelo Belinatti, valeu-se mais do clã populista montado pelo tio, o ex-deputado Antonio Belinatti, mas, ainda assim, não conseguiu vencer no primeiro turno enfrentando candidatos fracos.Em Ponta Grossa, o deputado Marcelo Rangel (PPS), apoiado por Richa, vai para o segundo turno com o petista Péricles de Mello. Em Maringá, Pupin, do PP, apoiado pela família Barros e por Beto, ainda terá de enfrentar o deputado Enio Verri (PT) no segundo turno. Em Francisco Beltrão, terra do líder do governo na Assembleia, deputado Ademar Traiano, o candidato do PSDB Vilmar Cordasso perdeu para o peemedebista Cantelmo Neto.
Em Cascavel, o pedetista Edgar Bueno, que concorre à reeleição após Richa ter retirado, para beneficiar o prefeito, o candidato do PSDB, ainda precisará enfrentar o petista Professor Lemos no segundo turno.Em Paranaguá, única grande cidade em que o PSDB tinha candidato próprio (Alceuzinho Maron), ficou num distante terceiro lugar. O vencedor foi o ex-prefeito Mario Roque, do PMDB.
A derrota das pesquisas
As pesquisas eleitorais também foram as grandes derrotadas na eleição de Curitiba. Datafolha e Ibope, embora na véspera já apontassem uma tendência à virada de Gustavo sobre Ducci, consignavam ainda grandes diferenças. Pior foi o "boca de urna" do Ibope que, no exato momento em que se encerrava a votação em Curitiba, apontava Ratinho Jr. e Ducci como vencedores e Fruet num distante terceiro lugar. Donde se confirma a fama dos curitibanos, segundo a qual eles não gostam de falar com estranhos, nem para dizer bom dia no elevador. Pois, pelo jeito, os curitibanos também não falaram direito com os institutos de pesquisa.
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