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Com um dia de diferença, dois celebrados institutos de pesquisa indicaram resultados que, embora coerentes na ordem da suposta preferência do eleitorado pelos nomes em disputa, apresentaram diferenças que não são exatamente desprezíveis. Na terça-feira, pelo Ibope, Ratinho Jr. venceria a eleição com 35% e garantiria que Luciano Ducci, com 28%, seria o seu contendor no segundo turno. Gustavo Fruet, com 16%, e Rafael Greca, com 9%, deveriam se conformar com uma distante derrota frente aos dois primeiros.

Ontem, no entanto, o Detafolha alterou minimamente a previsão do congênere Ibope: os dois primeiros apresentaram quedas: Ratinho Jr. caiu para 34% e Ducci para 25% – dois e três pontos porcentuais, respectivamente. Gustavo Fruet subiu dois pontos, de 16% para 18. Rafael Greca cresceu um ponto e foi para 10%.

Mesmo que sempre se deva considerar o risco de comparar pesquisas feitas por institutos diferentes, nota-se que as variações – para cima ou para baixo – mantiveram-se dentro das margens de erro de 3 ou 3,5 pontos porcentuais admitidas para ambas as sondagens. De qualquer modo, as variações registradas devem ter provocado contraditórios sentimentos entre os estrategistas das campanhas de Ducci e Gustavo. O primeiro, de alerta, em razão da continuidade de queda dos seus índices; o segundo, de ânimo, diante da diminuição da diferença.

De fato, os 25% de Ducci e os 18% de Gustavo quase chegam a configurar um empate técnico entre os dois, considerando que a margem de erro é de 3 pontos porcentuais para baixo ou para cima.Tanto Ducci pode estar com 22 ou 28, quanto Gustavo com 21 ou 15. Em que posição estão os extremos é impossível dizer.

Se as previsões forem de fato um retrato bem próximo da fiel tendência do eleitorado, o Datafolha confirma a possibilidade de a segunda vaga em disputa no segundo turno ainda estar tecnicamente aberta – tanto pode dar Ducci, mais provavelmente, como Gustavo, embora mais remotamente.

Os erros históricos das pesquisas

A questão principal, no entanto, se concentra exatamente na confiabilidade das pesquisas. Em 1994, por exemplo, às vésperas da eleição, o prestigiado Instituto Gallup previa um segundo turno entre Fernando Henrique Cardoso e Lula. O segundo turno não houve: FHC ganhou no primeiro, com uma brutal diferença sobre seu oponente, de 34 milhões de votos contra 17 milhões. O erro do Guallup foi fatal para o instituto que, desde então, desistiu de fazer novas pesquisas eleitorais no Brasil.

Mas esse não foi o único caso em que as sondagens pré-eleitorais naufragaram diante dos resultados reais apresentados pelas urnas. Há uma imensa coleção de enganos – alguns igualmente históricos. Em 1985, Janio Quadros e Fernando Henrique disputavam a prefeitura de São Paulo. Todos os institutos davam a vitória a FHC com larga margem. Janio ganhou.

Em 2008, na eleição para a prefeitura de São Paulo, o Ibope anunciava que Marta Suplicy ganharia de Gilberto Kassab de 35% a 25%. Abertas as urnas, Kassab estava eleito com 33% e Marta derrotada com 32%. Em 2010, também em São Paulo, os institutos não foram tão mal em acertar quem seria o vitorioso, mas os índices foram muito diferentes daqueles constantes da pesquisa Datafolha: Geraldo Alkmin, que pela pesquisa teria 55%, nas urnas conseguiu 50,5%; e Mercadante, para quem se previa 28% dos votos, fez 35,5%.

Aqui mesmo no Paraná, dois exemplos: em 2004, Rubens Bueno (atual candidato a vice na chapa de Ducci) era candidato a prefeito concorrendo com Beto Richa e Angelo Vanhoni. Na véspera da eleição, o Ibope lhe atribuia 13% dos votos; nas urnas foi a 20%. Eleito deputado federal em 2010, um dos primeiros projetos de Bueno foi propor a aplicação de pesada multa aos institutos de pesquisa em casos de erro muito acima das margens – como aconteceu com ele.

Em 2010, Fruet também foi vítima das pesquisas. Disputava com Requião a segunda vaga do Senado (a primeira já estava praticamente decidida em favor de Gleisi Hoffmann). O Ibope previa que sua votação ficaria 20 pontos porcentuais abaixo da de Requião. Contados os votos, a diferença foi de apenas 1,7 ponto porcentual, 24,8% a 23,1%.

O que vale é o que está na urna

Isso tudo quer dizer o seguinte: as pesquisas pré-eleitorais são importantes e indispensáveis no processo político. A população tem o direito de ser informada sobre o rumo que as tendências tomam. E nem mesmo os erros gritantes justificam a supressão desse instrumento de mensuração. Se as pesquisas são acusadas de influenciar o resultado das eleições, como explicar que os candidatos que elas diziam estar "mortos" foram depois consagrados pelas urnas? Sinal de que pesquisas não são decisivas.

Logo, o certo é continuar em dúvida. Se as pesquisas acertarem, parabéns para o trabalho bem feito dos institutos. Se errarem, será mais um caso a ser inscrito nos anais de seus fracassos. Importante, mesmo, é a manifestação concreta do povo, e esta só pode ser conferida quando as urnas forem abertas.

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