Qualquer um que olhasse o tamanho da bancada de oposição que o governador Beto Richa (PSDB) enfrentava na Assembleia Legislativa no início de 2015 poderia jurar que o Executivo passaria sem problemas qualquer projeto de lei que desejasse. Não foi assim. Mesmo com capital político renovado depois de uma reeleição em primeiro turno, Richa enfrentou forte resistência para aprovar seu reajuste fiscal e teve de recuar em diversos momentos do ano.
Um dos motivos para essa dificuldade está no fato de que, além da oposição parlamentar, inicialmente frágil, o governador precisou enfrentar a contestação de grupos organizados fora da Assembleia. Especificamente, os sindicatos dos servidores públicos. Mais especificamente ainda, o sindicato dos professores da rede estadual de ensino, a APP-Sindicato.
Em 2015, a verdadeira força de oposição enfrentada por Richa veio das ruas – e quem comandava as ruas era a APP. Nenhum exemplo foi mais claro do que a votação do segundo pacote fiscal enviado pelo governo à Assembleia. Do lado de dentro, os deputados de oposição nem faziam cócegas à maioria governista. Mesmo com a adesão de deputados que viram a crescente insatisfação popular com o projeto, a oposição chegava apenas a 19 dos 54 deputados.
Do lado de fora, porém, milhares de pessoas protestaram e quase conseguiram impedir a votação. Só não o fizeram porque a polícia reagiu com violência desproporcional, ferindo 213 pessoas. A vitória no Parlamento ocorreu. Fora de lá, o governo teve uma derrota moral que baixou a níveis inéditos a popularidade de Richa.
Para Marlei Fernandes, dirigente da APP, a queda de popularidade não era objetivo do sindicato e nem mesmo se tratava de fazer uma atuação “oposicionista”. O problema foram os projetos que o governo enviou seguidamente contrariando os interesses da categoria”, diz ela, negando que o fato de o sindicato ser cutista, com diretores filiados ao PT, tenha interferido diretamente nas decisões. “Em governos petistas nós protestamos do mesmo modo”, afirma.
Os confrontos entre governo e a categoria realmente foram vários. No primeiro pacote de ajuste fiscal, eram professores boa parte dos manifestantes que invadiram o plenário e impediram a votação. Também foram eles que cercaram o “plenário” alternativo montado para tentar fazer a votação de qualquer modo ainda em fevereiro. Cercados por uma multidão enfurecida, os deputados cederam e o governo retirou os projetos. Também houve confrontos sobre o processo de eleição de diretores e sobre o plano de educação, entre outros.
“Os sindicatos em certo sentido são muito mais articulados do que a oposição no Parlamento”, diz Luiz Claudio Romanelli (PMDB), líder de Richa na Assembleia. Segundo ele, porém, a bancada petista teve papel relevante ao insuflar os manifestantes. “Sem os deputados, que enquadraram os sindicatos, a coisa teria sido diferente”, afirma.
Para 2016, a situação tende a se acalmar, já que o governo diz ter as contas em dia e dificilmente atrasará pagamentos, como fez no início de 2015. Em tese, também não há mais “pacotes de maldades” pela frente. Mas o governo, com as ações já realizadas, pode ter certeza de que criou um movimento organizado dentro dos sindicatos - e descobriu que muitas vezes isso pode levar a derrotas até mesmo dentro da Assembleia, algo inimaginável há menos de um ano.
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