A advogada Maria Cristina Rachado, que atuava da defesa de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, deixou a prisão na noite desta terça-feira. Ela passou oito meses na prisão. Maria Cristina é acusada de, além de defender seu cliente, atuar como informante da quadrilha organizada que promoveu ataques terroristas a São Paulo. Ela repassaria ordens dele a criminosos que estão fora da prisão.
Maria Cristina foi beneficiada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e vai cumprir prisão domiciliar. Poderá trabalhar normalmente durante o dia. Não poderá sair de casa à noite. Ela chegou a São Paulo pouco depois da meia-noite, após o TJ aceitar o pedido de habeas corpus da defesa da advogada. Advogados, juízes e promotores têm foro privilegiado e só podem ser presos depois de julgados e condenados. No caso de prisão preventiva, devem ficar em celas especiais. São Paulo só tem duas salas especiais e elas já estão ocupadas.
- Eu sou inocente, sou advogada e vou trabalhar como advogada - afirmou Maria Cristina, que ficou presa durante oito meses e responde a 48 processos.
Maria Cristina estava presa em Ribeirão Preto. Ela foi denunciada pelo Ministério Público de São Paulo junto com outros 25 integrantes do bando. O MP flagrou a advogada combinando o valor de uma viagem, que teria sido paga com dinheiro do crime organizado.Ela se tornou conhecida do público por ter prestado depoimento à CPI do Tráfico de Armas, em Brasília, onde foi acusada de subornar um funcionário da Câmara federal para obter cópia do depoimento de dois delegados paulistas, entre eles Ruy Ferraz Pontes, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic)
O advogado de Maria Cristina é Mário de Oliveira Filho, presidente da Comissão de Prerrogativas da seccional paulista da OAB. Segundo Oliveira Filho, ela pode trabalhar normalmente entre 8h e 20h, quando deve voltar para casa. Não pode sair à noite e não pode deixar o estado de São Paulo. Para o presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB, Sergei Cobra, a lei que beneficiou a advogada é constitucional.
Maria Cristina não é a única dos advogados acusados de colaborar com o crime organizado a deixar a prisão. A advogada Iracema Vasciaveo, diretora jurídica da ONG Nova Ordem, ficou apenas oito dias presa em janeiro passado e obteve liberdade provisória concedida pelo juiz auxiliar do Departamento de Inquéritos Policiais da Capital (Dipo), Vinícius de Toledo Piza Peluso. A ONG tem como objetivo atuar no apoio a presos e suas famílias e é acusada de ser um braço do crime organizado fora das prisões.
Iracema havia sido presa no último dia 23 de janeiro por porte ilegal de arma. Na ocasião, agentes do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), em cumprimento de 12 mandados de busca e apreensão, detiveram, além de Iracema, o presidente da ONG, Ivan Raymundi Barbosa, e os diretores Anderson Luis de Jesus e Simone Barbaresco.
De acordo com a polícia, a advogada portava um revólver sem documentação e com registro de furto. Durante a liberdade provisória, a advogada terá que comparecer a todos os atos do processo.
Segundo o delegado Ruy Ferraz Pontes, do Deic, a ONG Associação dos Familiares dos Reeducandos Nova Ordem lavava dinheiro para a facção criminosa. Ele disse isso quando prendeu os diretores da ONG. Afirmou ainda que os três presos eram suspeitos de participar do seqüestro do repórter da TV Globo Guilherme Portanova e do iluminador Alexandre Calado, no ano passado.
Iracema alegou que a arma pertence ao ex-marido, um policial que já morreu. Não há provas de que ela participou do seqüestro.
Em escutas telefônicas, a advogada Libânia Costa, presa desde junho passado, teria orientado Raymondi e Simone sobre como "esquentar" o dinheiro enviado pela organização criminosa à ONG. Compras de alimentos, como 8.500 pães, colchões e itens de higiene entregues em presídios, seriam a maneira de fazer a lavagem. Durante entrevista coletiva, Fontes disse que documentos - aos quais a reportagem não teve acesso - encontrados na ONG provam que o aluguel da sede da associação era pago por meio de contas bancárias da organização criminosa.
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