• Carregando...

À espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que revogue a sua prisão preventiva, o escritor italiano Cesare Battisti, a quem o governo brasileiro concedeu refúgio político nesta semana, tenta controlar a ansiedade para desfrutar de algo que esperava há longos anos. O relato é do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos responsáveis pela defesa de Battisti. Eles se encontraram ontem na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal

"Ele estava, de um lado, aliviado, porque passou trinta e oito anos se exilando na França, no México, vindo para o Brasil. Agora vai ter paz e a possibilidade de não temer mais perseguição política. Também está ansioso, pois já está há quase dois anos preso preventivamente em virtude do processo de extradição e quer voltar a escrever" , informou Greenhalgh, em entrevista à Agência Brasil.

O advogado considera que a liberdade de Battisti será consumada em questão de dias, uma vez que o STF já foi comunicado oficialmente da decisão do governo brasileiro. A extradição, que tramita na Corte, foi pedida pelo governo italiano e se deve ao fato de Battisti ter sido condenado naquele país à prisão perpétua, acusado de ser o autor de quatro assassinatos, quando militava no grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). A condenação se deu com base em declarações de um dos líderes do PAC, Pietro Mutti, que teria se transformado em colaborador da Justiça, após ser preso e torturado.

Segundo Greenhalgh, Battisti nunca admitiu ter qualquer envolvimento com as mortes e há inúmeros indícios de tratar-se de perseguição política. Um deles seria o fato de dois dos homicídios imputados ao escritor terem sido praticados no mesmo dia, em horários próximos, em cidades distantes mais de 500 quilômetros uma da outra.

"Quem analisa o caso de longe pode estranhar o Brasil ter concedido refúgio a uma pessoa condenada à prisão perpétua. Mas quem conhece o processo, viu os absurdos que foram feitos, os advogados presos por terem aceito a causa dele, a condenação feita por causa de um arrependido envolvido nos mesmos episódios, em um processo à revelia, sabe que esse é um processo político", argumentou ao advogado. "Os homicídios foram feitos em praça pública e não há testemunha que tenha visto o Cesare Battisti nestes fatos", acrescentou.

Greenhalgh criticou a insistência do governo italiano em pedir uma revisão da concessão do refúgio. "Há uma perseguição política e o governo da Itália tem que respeitar a decisão soberana do governo brasileiro".

Detido na Papuda desde 2007, Battisti está em cela coletiva. O relato é de que divide seu tempo entre conversas com os presos e a escrita de textos. Ele estaria prestes a concluir mais um livro, o 17º de sua autoria, sobre a experiência dos anos 70 na Itália e a vida de fuga da perseguição política.

"Ele [Battisti] escreve à mão, em cadernos que eu levo, e depois me entrega as partes", contou Greenhalgh.

A saúde do escritor estaria combalida neste momento, segundo o advogado. Battisti apresenta taxa de glicemia elevada e hepatite B, o que motivou um dieta especial recomendada pelos médicos do presídio.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]