O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), autorizou a quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico, durante depoimento à CPI do Cachoeira, na manhã desta quarta-feira (13). Citado pelo grupo do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, como o "01 de Brasília" ou "Magrão", Queiroz chegou para depor pressionado a explicar as relações de alguns de seus principais assessores com a organização de Cachoeira. Clique aqui para ver fotos do depoimento.
Confira, abaixo, os principais pontos do depoimento de Agnelo Queiroz.
â Quebra de sigilos
Ao autorizar a quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico, o governador do DF disse: "Meu patrimônio hoje é bem modesto para um médico com mais de 30 anos de trabalho". "Quem não deve não teme", completou. A autorização foi concedida após o governador ter mencionado suspeitas de enriquecimento ilícito. Um dos principais questionamentos está relacionado à mansão que Agnelo e a esposa adquiriram em 2007.
Na terça-feira, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), recusou-se a abrir seus sigilos.
Instado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Agnelo aceitou assinar um documento autorizando a quebra do sigilo em plena reunião da CPI. O gesto motivou o governador goiano Marcono Perillo a voltar atrás e autorizar também a abertura de seus sigilos.
â Recolhimento de lixo
Agnelo rebateu as denúncias de que seu governo estaria favorecendo a empresa Delta em contratos de recolhimento de lixo em Brasília e região. Ele apresentou medidas tomadas pelo seu governo, no fim do ano passado, como a fiscalização da pesagem do lixo, antes mesmo da divulgação das operações deflagradas pela Polícia Federal. Essas medidas teriam representado uma economia de mais de R$ 1 milhão aos cofres do DF. "Vinte e seis dias após tomar posse, determinei uma profunda auditoria em todos os contratos firmados por gestões anteriores", disse ele, acrescentando que a auditoria teve início antes de qualquer operação deflagrada pela Polícia Federal.
â Grampo ilegal
O governador afirmou que foi vítima de grampo ilegal. Segundo Agnelo, 300 telefones de pessoas na capital foram alvos de interceptações clandestinas. Ele negou com veemência a suspeita de que partiria do governo dele as gravações de telefonemas feitos fora da lei. "Eu fui vítima disso", afirmou. "Jamais posso admitir qualquer atitude que ocorra neste sentido", disse, ressaltando ter determinado à Polícia Civil do DF a abertura de inquérito para apurar os fatos.
Agnelo declarou que esquemas de espionagem e arapongagem são práticas recorrentes na capital do País. Segundo ele, "muitos desses grupos criminosos" que se valem das interceptações ilegais são aqueles que "anunciaram várias vezes" que ele iria cair.
O governador disse que colocou um grupo de delegados e investigadores com "maior expertise" para apurar as suspeitas de grampo ilegal. A apuração foi aberta em fevereiro e ainda não foi concluída. "Não é para jogar para plateia", afirmou. "Eu tenho certeza que nós desmontaremos (o esquema de arapongagem)", completou.
â Ex-assessor citado em operação da PF
O governador disse que confia em seu ex-chefe de gabinete Cláudio Monteiro e que não tem conhecimento se houve por parte de Monteiro algum tipo de favorecimento da Delta Construções. A empresa é investigada pela Polícia Federal sob suspeita de fazer parte do suposto esquema criminoso comandado por Carlinhos Cachoeira.
Monteiro é citado em uma gravação da Operação Monte Carlo, em conversa com pessoas ligadas a Cachoeira. Quando as denúncias foram divulgadas na imprensa, Monteiro se afastou do cargo. "Eu conversei com ele e ele me disse que recebeu, como chefe de gabinete, representantes da empresa Delta e disse que foi um encontro normal, corriqueiro e sem nenhum pedido que não fosse republicano", disse Agnelo.
As gravações da PF também apontam que Monteiro seria um dos beneficiados pelos aparelhos celulares via rádio, comprados por Cachoeira e distribuídos, de acordo com a Polícia Federal, a pessoas que faziam parte da organização. Agnelo disse que Monteiro negou ter recebido o celular. "Ele me falou que não recebeu rádio nenhum. Eu acho que é coerente porque não tem no inquérito nenhuma interceptação com o Cláudio Monteiro", disse.
O governador confirmou ainda que Cláudio Monteiro disse a ele que se encontrou duas vezes com Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, investigado pela Operação Monte Carlo. "Ele me disse que recebeu Cláudio Abreu duas vezes", disse Agnelo que negou conhecer o empresário. "Não o conheço, nunca o recebi", destacou.
Cláudio Monteiro também foi convocado pela CPMI, no entanto, ainda não há data marcada para seu depoimento. "Ele virá falar aqui e poderá dar todas as explicações", disse o governador.
â Bate-boca
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), discutiram no plenário da CPI do Cachoeira, durante o depoimento do governador de Agnelo Queiroz (PT).
A confusão começou depois que Onyx questionou o fato de assessores de Agnelo que estavam em pé atrás do governador terem, segundo ele, feito chacota com as perguntas feitas pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Irritado com a intervenção, Onyx pediu ao presidente interino da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), para retirar os auxiliares do governador do local, argumentando que eles estavam zombando dos parlamentares. Os assessores de Agnelo foram deslocados, por ordem de Teixeira.
Sampaio retomou as perguntas questionando o governador sobre quem o convidou a visitar a Vitapan, a empresa de Carlinhos Cachoeira em que ele esteve por uma vez quando era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governador do DF foi lacônico, dizendo que o convite foi da empresa. Mas o tucano insistiu em uma resposta mais completa.
Diante do barulho na sala da CPI, Lorenzoni interveio mais uma vez, pedindo silêncio no ambiente para Sampaio continuar a fazer suas perguntas. O presidente interino da comissão questionou a nova intervenção do parlamentar do DEM, que o rebateu em pé. "O senhor não vai cassar a minha palavra", afirmou.
Foi aí que o líder do PT na Câmara disse, também em pé, que o deputado do Democratas estava querendo "aparecer". "Se ele quiser aparecer, vai fazer lá na Câmara", protestou Tatto, ainda se referindo ao fato de que a sucessiva manifestação de Lorenzoni na CPI tem por objetivo amenizar o fato de que um ex-senador do partido, Demóstenes Torres (GO), corre o risco de cassação por envolvimento com Cachoeira.
O bate-boca parou depois que o presidente interino da CPI deu um pouco mais de prazo para Sampaio fazer suas intervenções.
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