Empresa líder nos principais rankings de reclamações de consumidores, tanto do Ministério da Justiça quanto nos Procons estaduais, a operadora Oi não fez jus à má-fama quando a reclamação veio do então secretário particular da presidente Dilma Rousseff, Anderson Dorneles.
Na ocasião em que o funcionário teve problemas em uma instalação da empresa e acionou a central de atendimento, quem resolveu o problema foi o diretor de operações da Oi, James Meaney.
A atenção especial foi dada a pedido de Otávio Azevedo, então presidente da Andrade Gutierrez, empresa que controlava a telefônica. As informações constam de relatório de perícia realizada no telefone do executivo, no âmbito da Lava Jato.
“James, muito obrigado pela atenção e pelo profissionalismo de vocês. Um grande abraço, Anderson”, escreveu o secretário de Dilma a Meaney numa noite de sábado, em 29 de setembro de 2012, depois de ser atendido pela empresa. O diretor da Oi replicou a mesma mensagem a Azevedo, incluindo um complemento: “Otávio, cliente conectado”.
O executivo respondeu já de madrugada, exultante: “Parabéns, James, você como ninguém pratica a regra do patrão [o cliente], especialmente este. Você conquistou para a Oi alguém que será positivo quando assuntos Oi surgirem no Palácio”.
O diretor da Oi agradeceu, mas acabaria levando um pito da direção da Oi por não ter avisado internamente sobre a demanda.
“Ele me ligou e perguntou para quem fiz uma instalação em Brasília este fim de semana. Falei que sim. Ele falou para quem era e quem pediu? Falei que era para Anderson ao seu pedido. Ele ficou muito chateado comigo e demandou que qq [qualquer] contato e pedido com os sócios é tratado diretamente com ele”, queixou-se Meaney com Azevedo dias depois, sem citar quem teria lhe dado o puxão de orelha.
O jornal O Globo perguntou a Dorneles, a Otávio Azevedo, à Oi e à Andrade Gutierrez se o desejo de ter alguém “positivo” no Palácio do Planalto se consumou depois do atendimento, mas eles não responderam.
O relatório da perícia da PF no telefone de Azevedo mostra que Dorneles também foi convidado pela Oi para assistir à final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha no Rio, em 2013. Ele nega ter aceitado o convite.
“Otávio, o telefone do Anderson é 61 (...). Ele vai chegar no Rio no próprio domingo. Como é que você prefere fazer?”, escreveu a Azevedo o diretor de relações institucionais da Andrade Gutierrez, Flávio Machado, a dois dias da partida, em 28 de junho de 2013, em meio a conversas relacionadas ao jogo. “Ok”, respondeu o executivo.
Por e-mail, Dorneles disse nunca ter recebido “tratamento diferenciado, presentes, gratificações, cortesias, convites e/ou ingressos das empresa Oi telefonia e Andrade Gutierrez”. Ele disse não ter viajado ao Rio para assistir ao jogo do Brasil, mas ter ficado em Brasília. E afirmou não se recordar da mensagem enviada a James Meaney.
A Oi informou que “todos os funcionários Oi estão orientados a prestar atendimento para buscar soluções para eventuais problemas com serviços da companhia”. A empresa não comentou a oferta de ingresso para Dorneles, mas disse que como patrocinadora oficial da Copa das Confederações 2013, recebeu convites que foram utilizados “para promoção de sua marca” perante “clientes, fornecedores, parceiros comerciais e acionistas”.
A Andrade escreveu em nota manter “o compromisso de colaborar com a Justiça” e ter feito propostas “para dar mais transparência e eficiência nas relações entre setores público e privado”.
A defesa de Otávio Azevedo informou estar “impedida de comentar as mensagens questionadas pelo jornal porque as mesmas encontram-se sob sigilo”. Disse que o conteúdo do celular do executivo “foi objeto de questionamentos em depoimento prestado na PGR, no âmbito do acordo de colaboração”. Afirmou também que “sempre que necessário”, o executivo “voltará a colaborar plenamente com as investigações no interesse da Justiça”.