Relatório da Polícia Federal sobre o celular de Marcelo Bahia Odebrecht apreendido na 14ª fase da Lava Jato revelam a preocupação do empreiteiro com a eventual delação de Rogério Araújo, ex-diretor que foi afastado da Odebrecht após ser preso na operação e apontado por delatores como responsável por operar os pagamentos de propina no exterior.
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“Outro ponto polêmico na anotação 10048 se refere a questão urdida por Marcelo para que Marcio Faria (outro ex-diretor da empresa preso na Lava Jato) e Rogério Araújo não movimentem nada e que serão reembolsados, bem como terão suas famílias asseguradas, pelo que se verifica, trata-se de estratégia para que Marcio Faria e Rogério Araújo não movimentem contas bancárias (remanescendo a dúvida se tais contas seriam nacionais ou não), que todos os gastos dos mesmos serão ressarcidos, bem como suas famílias não sofrerão desgastes financeiros.” aponta o relatório da Polícia Federal.
Nas anotações no celular do empreiteiro, feitas em tópicos e utilizando siglas e códigos, há um tópico específico “delação/fallback(RA)”, abaixo do qual aparecem as seguintes anotações: “Livrar todos e só eu; era amigo e orientado por eles pagou-se Feira de cta (possivelmente conta) que eles mandaram. ODB pagava campanha a priori, mas eh certo que aceitava algumas indicações a título de bom relacionamento”, diz o texto.
Logo após a frase indicando a proteção ao executivos, há o tópico “higienizar apetrechos MF e RA”, que segundo a PF indica a tentativa de apagar material comprometedor nos celulares, tablets e pen drives dos ex-executivos. Em seguida, aparece o tópico “vazar doação campanha”, que, contudo, não deixa claro de qual campanha seria este vazamento.
Em outro momento, a anotação no tópico sobre a eventual delação chega a admitir possibilidade de “caixa 2”. “Campanha incluindo caixa 2, se houver era soh com MO (provavelmente MO Consultoria, empresa de fachada de Youssef utilizada para pagamento de propinas), que não aceitava vinculação. PRC (Paulo Roberto Costa) soh se foi rebate de cx2. Armadilha Bisol/contra-infos”, seguem as anotações.
‘Feira’
Chamou a atenção da Polícia Federal ainda utilização da palavra “feira”, que posteriormente aparece relacionada a João Vaccari Neto. “Presume-se que esteja diretamente relacionada a distribuição de valores para pagamentos de contas estranhas a operação normal das atividades econômicas do grupo Odebrecht, tal assertiva se baseia em anotações datadas de 09/01/2013, onde Marcelo utilizada tal palavra vinculando-a ao número 40 e a Vaca (alusão a Vaccari)”, assinala a Polícia Federal.
Ao final do tópico sobre a eventual delação de Rogério Araújo, Marcelo Odebrecht ainda elenca várias siglas em referência a políticos, seguidas por um ponto de interrogação. “ Marcelo ainda anota as seguintes siglas: GA, FP, AM, MT, Lula e E.Cunha, acompanhadas de ponto de interrogação, contudo, sem relacioná-las diretamente a qualquer assunto. Tais siglas se referem possivelmente a Geraldo Alckmin (governador de São Paulo), Fernando Damata Pimentel (governador de Minas), Adriano Sá de Seixas Maia (diretor jurídico da Odebrecht Transport), Michel Miguel Elias Temer (vice-presidente da República) Lula (ex-presidente) e Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados)”, aponta a Polícia Federal.
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