Tensão. Esse é o sentimento da maior parte dos manifestantes que está mobilizada há dois dias em torno do prédio da Assembleia Legislativa, no Centro Cívico, na tentativa de impedir a aprovação do projeto de lei de reforma da Paranaprevidência. Muitos montaram acampamento na Praça Nossa Senhora da Salete para acompanhar, nesta quarta-feira (29), a votação final da proposta. E tantos outros servidores devem chegar do interior do estado. O clima ficou mais tenso após uma madrugada e uma manhã em que servidores e policiais entraram em confronto, deixando um saldo de ao menos 13 pessoas feridas.
Richa diz que apenas cumpre ordem judicial
- Da Redação
Ao comentar pela primeira vez o cerco à Assembleia, o governador Beto Richa (PSDB) disse que está apenas cumprindo uma decisão do Judiciário, que determinou ao Executivo garantir “a segurança para o pleno e democrático funcionamento” da Casa. Em entrevista à RPC TV, o tucano evitou comentar os confrontos já ocorridos entre policiais e servidores e disse que a estratégia da ação cabe ao comando da PM e à Secretaria de Segurança Pública.
Questionado se a mudança na Paranaprevidência é a única saída para resolver os problemas de caixa do estado, Richa respondeu negativamente e disse que o governo já fez um conjunto de medidas de ajuste fiscal. Afirmou ainda que a alteração vai garantir equilíbrio ao sistema previdenciário. Ele defendeu também que a proposta foi debatida durante dois meses com o Ministério Público, especialistas independentes e representantes dos servidores.
“Essa é a proposta mais importante neste momento e a melhor que surgiu até então”, declarou. “O que vocês estão vendo por aí é uma irresponsabilidade de adversários políticos, uma maldade do sindicato dos professores, de que estamos causando prejuízo e insegurança para as aposentadorias. Isso não existe mais, está garantido.” O tucano disse colocar seu capital político em jogo como garantia de que o pagamento de aposentados e pensionistas jamais estará em risco.
Aos docentes em greve, o governador pediu que mantenham a calma e que não se deixem levar por “propostas maldosas e equivocadas” e pela “desinformação”. “Peço aos professores que voltem para a sala de aula. Se não, o salário será descontado e isso vai afetar a ascensão no plano de carreira.”
A expectativa, segundo o sindicato dos professores (APP-Sindicato), é reunir ao menos 20 mil pessoas nesta quarta no Centro Cívico. Nesta terça-feira, cerca de 7 mil pessoas permaneceram na praça – 2 mil a mais que no primeiro dia de protestos.
Veja como foi o segundo dia de protestos e votação na Assembleia
Os embates
O primeiro confronto entre manifestantes e PMs ocorrência foi por volta da 1h30 da madrugada, quando policiais do Batalhão de Choque chegaram para cumprir a ordem de retirada dos manifestantes da praça. Na versão dos professores que acampavam no espaço, a confusão começou no momento em que eles sentaram em frente dos três caminhões de som contratados pela APP-Sindicato, representante da classe, para impedir a retirada dos veículos.
A tentativa de acessar a área isolada pela PM gerou mais dois tumultos durante a manhã. Os manifestantes tentaram recolocar o caminhão de som na praça, mas acabaram dispersados pelos policiais, que usaram cassetetes, sprays de pimenta, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.
Indignação
“O sentimento é de muita indignação. Não vamos admitir que esse projeto seja aprovado. Não vamos recuar”, desabafou a professora Cledir Morais, que viajou mais de 500 km com outros 43 servidores de Foz do Iguaçu para acompanhar a votação em Curitiba. Ao lado da professora, doze servidores do município de Planalto, Sudoeste do estado, montavam acampamento. “Para amanhã [quarta-feira], a expectativa é de mais confronto”, apontou um deles.
Na Assembleia, onde na terça não ocorreram votações sobre o projeto da Paranaprevidência, os deputados da oposição também demonstraram preocupação sobre possíveis confrontos durante nesta quarta-feira. “O governador está sendo irresponsável e imaturo, ele perdeu o juízo, acha que está em uma arena de gladiadores ou lidando com uma rebelião de penitenciária”, declarou Tadeu Veneri (PT), líder da oposição.
Um habeas corpus determinou que cerca de 400 pessoas possam ocupar as galerias da Assembleia para acompanhar a sessão de hoje. De acordo com a diretora da APP-Sindicato Marlei Fernandes, os líderes sindicais vão se organizar para que representantes de todo o funcionalismo público entrem no prédio. A Assembleia, porém,tenta revogar a liminar.
O sumiço da chave
A oposição ao governo do estado acusou nesta terça-feira (28) PMs de sumirem com a chave de um caminhão de som da APP-Sindicato que está estacionado no Centro Cívico. “O que aconteceria se alguém tirasse a chave do caminhão do [Batalhão] Choque? Seria preso imediatamente”, disse o líder da oposição, Tadeu Veneri (PT). Até o início da noite desta terça-feira (28), a chave ainda não havia sido devolvida.