
O pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) definiu como exemplo de democracia a realização de uma sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal sem a presença de manifestantes. Após pedir a prisão de um dos jovens que protestava por sua saída do cargo e mudar o plenário da comissão, permitindo a entrada apenas de parlamentares, assessores e jornalistas, o pastor acompanhou a reunião que durou cerca de duas horas para um debate sobre a contaminação de pessoas por chumbo na cidade de Santo Amaro da Purificação (BA).
"Me sinto realizado. Democracia é isso. Talvez seja preciso tomar medidas, não austeras, mas necessárias", afirmou o deputado do PSC durante a audiência. Ele se recusou a dar entrevistas após a reunião.
O deputado afirmou que as vítimas de contaminação que estiveram presentes na audiência teriam conseguido condições melhores se tivessem os manifestantes a seu lado. "Se vocês tivessem um grupo por trás gritando, seriam atendidos, se tivessem condições de impedir uma comissão de trabalhar, talvez tivessem sido atendidos", afirmou.
Feliciano presidiu apenas o início da reunião. Ainda com a presença dos manifestantes, o deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP) fez uma exposição sobre a situação dos torcedores corintianos presos na Bolívia. Após trocar de plenário e impedir a entrada de manifestantes, Feliciano passou o comando ao deputado Roberto de Lucena (PV-SP), autor do requerimento para audiência pública. Aproveitou para dizer que essa será sua praxe na comissão e negou que tenha "fugido" da reunião na semana passada, quando ficou em plenário por apenas 8 minutos. Desta vez, sem público, Feliciano acompanhou toda a audiência.
Prisão
Após ser chamado de racista, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), determinou nesta quarta-feira (27) a prisão de um dos manifestantes que protestavam contra sua permanência no cargo. O episódio ocorreu minutos depois de ele abrir os trabalhos da comissão. O rapaz foi retirado do colegiado pela Polícia Legislativa da Câmara.
"Aquele senhor de barba, chama a segurança, me chamou de racista. Racismo é crime. Eu quero que ele saia preso daqui", disse.
Os manifestantes contra Feliciano tentaram impedir a saída do colega e o abraçaram, mas ele foi levado por vários policiais para o departamento de Polícia da Câmara. O rapaz foi identificado como Marcelo Pereira por outros colegas.
Feliciano reiterou que não vai sair do cargo. "Vou pedir para os manifestantes que mantenham a calma. Não vou ceder a pressão. Pode gritar, pode espernear". O deputado ainda decidiu trocar de plenário para impedir a presença de manifestantes.
Imprensa
Reafirmando que não pretende deixar o posto, Feliciano chamou de "estúpida" a pergunta de um jornalista sobre se o momento era adequado para manter a agenda da comissão. "Essa é uma pergunta estúpida. E lá existe tempo para fazer pedido de clemência?", questionou. Ele ficou irritado e acusou a imprensa de "ultrapassar seu limite". "Estou aqui por um assunto sério e vocês estão de brincadeira", completou.
Eleito neste mês para o comando da comissão, ele tem sido criticado por opiniões consideradas homofóbicas e racistas. O deputado nega e diz que defende posições comuns a evangélicos, como ser contra a união homossexual.
Segundo o deputado, a imprensa é quem cria a sensação de crise. "O que está em crise são vocês, falando besteiras e coisas que não existem".
"Não saio"
Um dia depois de ser bancado no cargo por seu partido, ele disse que não vai deixar a comissão nem diante de um apelo dos líderes da Casa. Ontem, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), convocou Feliciano para uma reunião com os demais líderes para encontrar uma solução.
"Não renuncio de jeito nenhum. O que os líderes podem fazer com a minha vida? Eu fui eleito pelo voto popular e pelo voto do colegiado", disse. O discurso foi reforçado pelo líder do PSC, André Moura (SE). "Gostaria que os líderes respeitassem a vontade da minha bancada".
Feliciano, que na tarde de hoje vai presidir pela terceira vez uma reunião da Comissão de Direitos Humanos, disse que está pronto para enfrentar novos protestos. "Estou preparado para tudo. Nasci preparado", disse. O deputado, no entanto, afirmou esperar que "dê tudo certo". Nas duas primeiras vezes, as sessões foram marcadas por bate-bocas e uma delas foi suspensa logo após o início.
Sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara








