A noite passada foi a primeira que a aposentada Dona Vitória, de 80 anos, passou sem ouvir a feira das drogas na Ladeira dos Tabajaras e os tiros disparados por bandidos de Copacabana. Ela ingressou em um programa de proteção a testemunhas e já deixou o apartamento no qual, durante dois anos, gravou imagens do tráfico na favela que fica a poucos metros do imóvel. Ela ficou emocionada com a repercussão do documentário que produziu e satisfeita com o resultado: até agora 22 pessoas foram presas: 13 bandidos e 9 policiais militares.

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- Estou de alma lavada. Foi por tudo isso que batalhei, sabia que teria um bom resultado. Sinto-me realizada, valeu a pena. Aquela gente mereceu - disse ela, ao se encontrar com o secretário estadual de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, na tarde de quarta-feira.

A polícia está em busca de outras nove pessoas envolvidas com o tráfico de drogas no Morro dos Tabajaras e que já têm mandados de prisão expedidos pela Justiça. Das 32 pessoas que aparecem nas gravações, apenas um suspeito ainda não foi identificado.

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Segundo o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio, o Ministério Público opinou contrariamente à prisão de três policiais, mas ele acolheu integralmente a representação dos delegados Fernando Veloso e Marcus Castro, da 12ª DP, responsáveis pelo inquérito. Itabaiana já havia decretado anteriormente a prisão de outros indiciados do mesmo inquérito.

A satisfação com o resultado empolgou Dona Vitória. O esquema de segurança montado para ela não chegou a incomodá-la. Pelo contrário: a aposentada comemorou com policiais a captura dos envolvidos com o tráfico em Copacabana:

- Os PMs presos não honraram a farda, eles a usaram para fazer o mal. Venderam armas para bandidos, utilizadas no assassinato de várias pessoas. Não podemos nos conformar com isso.

Há dois anos, Dona Vitória vem filmando da sua janela flagrantes do movimento dos usuários e vendedores de drogas que circulam na favela que movimenta cerca de R$51 mil semanais com a venda de entorpecentes. Ao todo foram produzidas 22 fitas, com cerca de 33 horas de gravação. Narrando todas as cenas que captava como se fosse uma cineasta, seu relato é um misto de espanto, revolta e emoção. Como no dia em que, estupefata, flagra um grupo de crianças de 6, de 10 e de 12 anos de idade cheirando cocaína perto de uma ribanceira.

Na quarta-feira, a Ladeira dos Tabajaras amanheceu ocupada pela polícia. A investigação identificou 36 pessoas envolvidas no tráfico de drogas na região. O secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, deu detalhes da operação:

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- Com base em denúncias trazidas à Secretaria de Segurança Pública pelo jornal Extra, determinei, há cerca de três meses, às polícias Civil e Militar que iniciassem investigações naquela comunidade. Esse trabalho, feito também com o Serviço de Inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), resultou na gravação de 800 horas de conversas entre traficantes daquele local, do Morro Dona Marta e de presos de Bangu 3 - explicou Itagiba.