Segundo deputado Alberto Fraga, José Roberto Arruda "vive uma tortura psicológica"| Foto: Agência Brasil

Preso na Superintendência da Polícia Federal há um mês, o governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), é hoje "um homem desinteressado pelo tempo e depressivo", que tem como distração o banho de sol diário de 30 minutos e as anotações que faz em folhas de papel fornecidas pela Polícia Federal. Amigo de Arruda, o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), ex-secretário de Transportes do DF, é quem relata o drama familiar vivido pelo governador, preso desde 11 de fevereiro por suspeita de tentar subornar uma testemunha do mensalão do DEM de Brasília.

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"Ele vive uma tortura psicológica. É um homem que chora, que tem a voz embargada sempre que lembra da filha, sempre que lembra que foi o primeiro governador [no exercício do cargo] a ser preso no país", relata Fraga.

Preso às vésperas do carnaval, Arruda não pôde assistir ao desfile da escola de samba Beija-Flor, que apresentou enredo inspirado em Brasília e foi patrocinado pelo seu governo. Por ter direito a sala de "Estado-Maior" devido ao cargo, ele foi inicialmente instalado no gabinete do diretor Técnico-Científico da PF. A sala tinha 40m² e banheiro privativo. No dia 19, porém, o governador foi transferido para uma sala no Comando de Operações Táticas, também na superintendência da PF, sob a alegação de que o diretor precisava do gabinete para trabalhar.

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"Na sala de 10m², mobiliada com beliche, frigobar, mesa e ar-condicionado, Arruda passa os dias sem ter direito a ver televisão, ouvir rádio ou ler jornais e revistas", reclama o deputado. Até quinta-feira (11), quando o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, ordenou a concessão de privacidade, Arruda não tinha direito a conversa privada com a mulher, Flávia, ou com seus advogados. "Qualquer assassino, qualquer estuprador tem direito a visita privada no país. Ele (Arruda) é um preso que não tem privacidade", disse Fraga, que elaborou um pedido de informações ao Ministério da Justiça sobre o regime de prisão de Arruda.

Além do quadro "emocional abalado", como relatou o médico particular Brasil Caiado, Arruda passou por uma série de exames para diagnosticar uma suposta trombose no pé direito, verificar pressão e identificar possíveis quadros de hipertensão. Antes de conseguir autorização judicial para que o governador fosse examinado pelo médico particular, o governador foi levado ao hospital para fazer um ultrassom no pé, devido a um inchaço.

Padecendo por ter quadro de diabetes, Arruda também fez exames de urina e sangue. Todos os diagnósticos clínicos apontaram para o bom estado de saúde do governador. Nesta quinta, Arruda saiu pela segunda vez da superintendência da PF, para fazer uma ressonância magnética. O resultado não foi divulgado pela PF.

"Será que vão me torturar para renunciar?"

Fraga relata conversas em que o governador fala da possibilidade de renúncia. "Arruda pergunta: ‘Será que vão me torturar para renunciar?’" O deputado conta ser "surpreendente" aos olhos do governador a reação em torno das imagens em que ele aparece recebendo um maço de dinheiro das mãos de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais de Arruda e pivô do escândalo do mensalão do DEM de Brasília. "Ele diz que nunca imaginava ver essa fúria mortal contra ele."

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Desde o primeiro dia de prisão, o advogado Nélio Machado tentou, junto com seu sócio, Cristiano Maronna, libertar Arruda por meio de habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF). No dia 12 de fevereiro, o relator do caso na Suprema Corte, Marco Aurélio Mello, conferiu a primeira derrota aos defensores ao negar o pedido de soltura em caráter liminar (provisório).

No dia 4 de março, quando finalmente o caso foi levado ao plenário do STF, o voto detalhado de 32 páginas de Marco Aurélio fez com que nove dos dez ministros que participavam da sessão votassem pela permanência do governador na PF. Só o ministro Dias Toffoli votou pela libertação de Arruda, alegando que a prisão deveria ter autorização do Legislativo distrital.

Desde então, os advogados têm trabalhado para conseguir cópia integral do inquérito do STJ para só então formalizar uma nova estratégia para tirar Arruda da prisão. O pedido de cópia integral está em poder do ministro Fernando Gonçalves, que deve julgá-lo depois de receber o parecer da Procuradoria Geral da República.

Impeachment e infidelidade partidária

Além de buscar a libertação do governador, os advogados também atuam para evitar que Arruda seja cassado por infidelidade partidária no Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF). Ação proposta pelo Ministério Público Eleitoral está na pauta do julgamento da próxima terça-feira (16) do tribunal. Há ainda processos de impeachment abertos na Câmara Legislativa em fase avançada de tramitação.

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O STJ também aguarda autorização do Legislativo distrital para abrir ação penal contra Arruda pela suposta falsificação de notas fiscais para pagamento de panetones e no próprio caso de suborno que o levou para prisão.