O assessor especial da presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou nesta terça-feira (24), no Itamaraty, que o Brasil está decepcionado com o governo do presidente Barack Obama. Segundo ele, os norte-americanos tomaram uma posição "equivocada" em relação ao problema em Honduras e "estão entregando praticamente nada" na Conferência do Clima, em Copenhague. Garcia também ressaltou que Obama praticamente descartou as negociações na rodada de Doha.
"O presidente Lula continua com grandes expectativas, temos um bom relacionamento com o governo dos Estados Unidos. Mas, a grande verdade é que até agora tem um grande sabor de decepção. Que nós esperamos que seja revertido", disse o assessor de Lula.
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, permanece abrigado na embaixada brasileira e tenta negociar com o governo interino. Durante o processo de negociação, os Estados Unidos se mantiveram afastados e não defenderam de forma clara a volta do presidente deposto, além de não declararem que não reconheceriam eleições promovidas pelo governo interino. Quanto, à Conferência do Clima, o Brasil vai apresentar um "compromisso vonluntário" de reduzir a emissão de gases do efeito estufa em até 38%. Os EUA, maiores poluidores no mundo, até o momento não estabeleceram metas próprias de redução das emissões.
Garcia fez questão de listar os pontos de desacordo do Brasil com os Estados Unidos. "Nós vemos com preocupação alguns sintomas e alguns posicionamentos dos Estados Unidos. A rodada de Doha continua paralisada e o próprio Obama na carta que enviou esse domingo ao presidente Lula não vê muita possibilidade que isso se desenvolva. Na situação em Honduras, essa posição [do governo norte-americano] é de nítido desacordo com os países sul-americanos".
Com relação à Conferência do Clima, Garcia criticou a falta de iniciativa dos Estados Unidos e o fato de o país não apresentar compromissos claros. "No que diz respeito à conferencia do clima, os Estados Unidos não estão entregando praticamente nada. Somente um item que Brasil está propondo representa tudo que os Estados Unidos propuseram até agora", argumentou.
Segundo ele, o governo brasileiro entende que Obama está tendo dificuldades com sua agenda interna, mas que as posições norte-americanas causam "frustração".
Garcia disse que Lula continua com boas expectativas em relação ao governo Obama, porque tem até mais motivos para ter uma boa relação com os Estados Unidos do que quando era presidido por George W. Bush.
Zelaya
Garcia disse ainda que o Brasil não mudará sua posição de apoio ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e que vê com preocupação as eleições presidências daquele país, marcadas para o próximo domingo (29).
"A posição do Brasil é a posição da imensa maioria dos países sul-americanos. É a posição que a OEA [Organização dos Estados Americanos] adotou e a posição que a Unasul [União das Nações Sul-Americanas] adotou. Nós achamos lamentável que se queira limpar um golpe de estado por um processo de eleição que se realiza num país que viveu virtualmente sob estado de sítio nos últimos meses", disse.
Garcia disse que as eleições não devem contam com o apoio do Brasil e da maioria dos países latino-americanos. "A eleição não vai transcorrer num clima tranquilo, porque haverá uma parte importante da população que não vai participar da eleição. E essa eleição ela sofreu interrupção de alguns meses por causa de um regime exceção e ela não resolve problemas, ela cria mais problemas. Nós não vamos compartilhar isso", salientou.
O assessor de Lula também criticou a postura dos EUA na questão. "Nós achamos que é uma postura equivocada, que os EUA poderiam ter usado em determinado momento pressões mais fortes que eles utilizam em outras circunstâncias para que os golpistas e o [Roberto] Micheletti em particular fossem levados para o fundo do cenário".