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OPINIÃO - Jornalista conta que está com medo de viajar, seja por avião, ônibus ou carro. Clique e entenda- - -E você leitor. Qual a sua opinião sobre o assunto? Viajar lhe causa medo? Conte a sua história em nosso fórum- - -Entre as vítimas da tragédia, estavam pessoas ligadas ao Paraná
O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, assistiu no Palácio do Planalto à reportagem do "Jornal Nacional" que levantou a possibilidade de problemas mecânicos no avião da TAM que se acidentou em São Paulo.
Ao final da reportagem, Marco Aurélio, que estava acompanhado do assessor de imprensa Bruno Gaspar, reagiu ao conteúdo da reportagem com o gesto de bater uma mão fechada sobre a outra aberta, como se estivesse "comemorando o fato".
O "Jornal da Globo" conversou com Marco Aurélio Garcia. Ele disse que não teria essa reação em público. E negou que estivesse comemorando o conteúdo da reportagem.
"Essas imagens que foram tomadas à revelia, de forma clandestina, refletem concretamente a minha indignação frente a uma determinada versão que se quis passar para a opinião pública, [versão] que creditava ao governo a responsabilidade de um acontecimento dramático. Eu digo que é indignação porque não se trata simplesmente de jogar a responsabilidade nas costas do governo. Trata-se de explorar uma tragédia na qual morreram 200 brasileiros, pelo menos. Então, isso é um sentimento de indignação, é uma reação privada que qualquer pessoa de bom senso teria neste momento", disse Garcia.
A reação do assessor do presidente Lula, dois dias depois da tragédia, recebeu críticas. "Foi uma das cenas mais dantescas, mais cruéis que eu já vi. A nação inteira chorando e o Palácio festejando, querendo dizer que a culpa não é do governo. Claro que a culpa é do governo. Essa série de absurdos que está acontecendo é culpa do governo. Mesmo que não fosse, comemorar é uma bofetada no povo brasileiro", afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
O problema no reverso
Na reportagem do "Jornal Nacional", William Bonner informou que o avião da TAM que se chocou contra o prédio da empresa, em Congonhas, na terça-feira (17), tinha um defeito no reverso da turbina direita desde o último dia 13.
O reverso funciona como um auxiliar na freagem. Na pista de Congonhas, curta e que estava molhada por conta da chuva, teria ajudado a evitar que a aeronave escapasse da pista.
O problema havia sido detectado pelo sistema eletrônico de checagem do próprio avião. Mas a aeronave da TAM, um Airbus A320, continuou a voar nos dias seguintes, com o reverso direito desligado.
O jornalista William Bonner conversou, por telefone, com o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, e com o vice-presidente técnico, Ruy Amparo. Eles confirmaram estas informações. E afirmaram que o fabricante do avião, a Airbus, em seus manuais de manutenção, para casos como este, recomenda que uma revisão no dispositivo seja feita até dez dias depois da apresentação do defeito.
Os executivos da TAM também afirmaram que a Airbus considera que esse problema no reverso não é impeditivo de vôo. E que o avião A320 pode operar normalmente até que o problema seja verificado dentro do prazo de dez dias.
Pista fechada
A pista principal do Aeroporto de Congonhas ficou fechada por 23 minutos na última terça-feira e foi reaberta uma hora e 20 minutos antes do acidente com o vôo 3054 da TAM, que explodiu com 186 pessoas a bordo. A suspensão das operações foi determinada depois que o piloto do vôo 1697 da Gol informou à Torre de Controle que a pista estava escorregadia.
A informação foi dada pelo coronel Carlos Minelli de Sá, do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo, nesta quinta-feira. Segundo ele, o avião da Gol havia informado sobre as condição da pista à torre às 17h04m. Por isso, às 17h07m as operações foram suspensas na pista principal para que a Infraero analisasse as condições da pista.
A análise foi feita às 17h20m e a Infraero concluiu que a pista estava em condições de uso. Às 17h30m os pousos e decolagens foram retomados. O acidente com o avião da TAM ocorreu às 18h50m.
Minelli de Sá afirmou que a liberação foi feita porque não foram observados problemas. Segundo ele, entre 17h30m e 18h50m ocorreram 40 pousos e decolagens na pista principal e outros 11 foram feitos na pista auxiliar. Neste período, explicou, não foram apontados problemas pelas tripulações dos aviões.
Ele informou ainda que o índice pluviométrico sobre o aeroporto era inferior a 1 milímetro no momento do acidente naquele momento, de 0,6 mm, o que indica que ocorriam apenas pingos esparsos. Para classificar de chuva leve, o índice teria de ser acima de 1mm, afirmou.
O Airbus da TAM pousou na pista na velocidade e no ponto certo, mas mesmo assim apresentou um deslocamento à esquerda, que começou leve e foi acentuado até culminar com a explosão, já fora do aeroporto, dentro do galpão da TAM Express. Para Minelli, o vento era favorável ao pouso.
Airbus se deslocou à esquerda
Para o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, as marcas do deslocamento à esquerda são um fato concreto, mas não há informação suficiente para determinar a causa.
O chefe do Cenipa argumenta que o deslocamento pode ter sido provocado por problemas na própria aeronave, no pneu, desigualdade no freio ou alterações no reverso da aeronave (equipamento que atua como espécie de freio auxiliar) e diferenças no acionamento do freio.
Kersul Filho se apega ao fato de apenas o Airbus da TAM ter sofrido este deslocamento, o que isentaria a pista. Mesmo assim, ele acredita que a pista principal só deva ser usada seca ou, no máximo, úmida, até que sejam apuradas as causas do acidente.
O que era 'incidente' virou acidente
A derrapagem do turboélice da Pantanal, ocorrida um dia antes do acidente com o vôo 3054 da TAM, foi minimizada. No lugar de ter sido classificada como acidente, foi registrada como incidente, o que dispensou a perícia na pista. O Cenipa, explicou, só faz perícia na pista em acidentes, quando há vítimas ou danos ao avião. Os danos não teriam sido vistos por causa da lama.
Kersul Filho disse que só depois foi observado dano estrutural na aeronave. Agora, a derrapagem teve sua classificação alterada para acidente.
Segundo ele, tripulação do avião da Pantanal já prestou depoimento ao Cenipa e um dos gravadores da caixa-preta da aeronave já foi analisado. O outro seguirá para análise nesta quinta-feira.
Ele afirmou ainda que a caixa preta do Airbus da TAM seguiu para os Estados Unidos, por conta de ter sido avariada, e até terça-feira o Cenipa espera ter alguma informação sobre o conteúdo gravado, de voz e dados. As equipes americanas devem trabalhar durante todo o fim de semana para apressar os resultados.
"Infraero não teve nada a ver"
Em Brasília, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, eximiu a estatal de responsabilidade pelo acidente que matou cerca de 200 pessoas.
- Garanto que a Infraero não teve nada a ver com o acidente. Nada a ver. A investigação vai dizer. Eu assisti a fita e vi o que aconteceu - disse ele, referindo-se às imagens do momento em que o avião pousou em Congonhas.
- O avião saiu do aeroporto na mesma velocidade que chegou. Isso significa que ninguém alterou. Um avião que pousa, tenta frear e não freia. Ele saiu da pista com no mínimo 100 nós. Se ele estava com o reverso ligado, a coisa é mais grave ainda. Isso significa que ele não reduziu a velocidade.
Buscas e identificação difíceis
O Corpo de Bombeiros já retirou 184 corpos do prédio da TAM Express, atingido pelo Airbus, e as buscas agora ficaram mais difíceis por causa dos riscos de desabamento das estruturas. Parte delas começou a ser demolida. No IML, 25 corpos foram identificados e o instituto estima em 30 dias o prazo para liberação dos corpos. Para os familiares, é mais tempo de dor até enterrarem seus mortos.
Eram 186 passageiros no vôo 3054. Segundo a TAM, dos funcionários que estavam no prédio, oito continuam desaparecidos. Dois morreram. Não se sabe o número de clientes e de pessoas que estavam no entorno ou no posto de gasolina atingido.Limite de lotação e peso
O Airbus 320 decolou do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, no limite de segurança para pousar em Congonhas. Segundo a TAM, 100% dos assentos estavam ocupados e havia ainda uma criança de colo. O peso da aeronave, de 62,7 toneladas, correspondia a 98% do exigido para pousar em segurança nas condições de tempo apresentadas ontem no aeroporto paulista. Chovia há dois dias em São Paulo. Um dia antes, um turboélice da Pantanal deslizou na pista e atolou na lama, sem feridos.
Segundo a TAM, o plano de vôo para pouso em Congonhas foi aprovado e não houve qualquer relato de problemas feito pelo piloto. Segundo a companhia, não havia razão para problemas no avião, que passou por revisão no dia 13 de junho passado. De acordo com o vice-presidente técnico da TAM, Ruy Amparo, o livro de bordo do vôo foi assinado pelo comandante em Porto Alegre, sem nenhum registro de problemas ou panes
A pista de Congonhas é citada como possível causadora do acidente pela simples seqüência de fatos: dois acidentes em dois dias. Nos dois, chovia. Recém-reformada, ela entrou em operação dia 29 de julho desprovida de grooving, que são milimétricas ranhuras que permitem a drenagem da água.
A investigação sobre o maior acidente da história da aviação brasileira não ficará limitada às autoridades da aviação. O Ministério Público Federal pediu à Justiça o fechamento do aeroporto até o fim das investigações e o Ministério Público Estadual também acompanhará o inquérito aberto no 27 Distrito Policial . A Polícia Civil já começou a ouvir testemunhas. O Instituto de Pesquisa Tecnólogicas (IPT) foi contratado pelo Cenipa para ajudar nas investigações.
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