Atualizado em 28/12/2006 às 20h32

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Numa onda de terror e violência que começou na madrugada desta quinta-feira, bandidos fizeram mais de uma dezena de ataques em série em diversos pontos do Rio de Janeiro, da Zona Sul da capital à Baixada Fluminense. Eles incendiaram ônibus, metralharam postos de patrulhamento da Polícia Militar e atacaram delegacias a tiros e com granadas.

Dezoito pessoas morreram: sete passageiros de um ônibus interestadual da empresa Itapemirim; uma ambulante atingida por tiros em Botafogo; um homem baleado quando prestava queixa numa delegacia; dois policiais militares e sete bandidos (dois deles no fim da manhã, após confrontos com a polícia na Favela Arará, no Caju, Zona Portuária, e no Morro da Mineira, no Centro). Entre os 22 feridos, 14 civis e oito policiais. Três suspeitos foram presos. A polícia apreendeu ainda uma granada M-4, dois fuzis e quatro pistolas de grosso calibre.

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À tarde foram registradas novas ocorrências. três ônibus foram incendiados: um da empresa Santo Antônio, no Largo da Batalha, em Niterói, outro na Rua Cosmorama, em frente ao campo do América, em Mesquita, na Baixada Fluminense, e outro em Santíssimo - esse não cofirmado ainda pela secretaria de Segurança Pública. Não há informações sobre vítimas. Com esses atentados, sobe para nove o número de ônibus incendiados desde o início da onda de violência no estado . Na Taquara, em Jacarepaguá, Zona Oeste da cidade do Rio, um ônibus foi saqueado e um posto da Polícia Militar, metralhado. Todas as lojas fecharam as portas e houve um arrastão. Uma viatura policial também foi incendiada em Jacarepaguá.

O governo do estado não solicitou ajuda federal para conter a onda de ataques. A governadora Rosinha Garotinho disse que, apesar das mortes, os criminosos não conseguiram atingir o objetivo deles.

- O que a bandidagem queria fazer no Rio era reeditar São Paulo (referindo-se aos ataques do PCC no estado), não conseguiram e não conseguirão, porque estamos atentos - garantiu a governadora.

Divergências sobre motivos

Segundo o secretário estadual de Segurança, Roberto Precioso, os ataques podem ter sido motivados por eventuais mudanças na política carcerária do estado. Bandidos estariam preocupados com a mudança de governo e alterações que possam ser feitas na administração penitenciária. Segundo fonte da área de segurança, a ordem para os ataques teria partido do complexo de presídios de Bangu.

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- Eles (os bandidos) estão fazendo pressão para negociar com o novo governo concessões e privilégios. O temor deles, por exemplo, é que seja adotado um regime disciplinar mais duro. E isso eles querem evitar a todo preço - explicou.

A versão, porém, não é a única das autoridades do governo estadual, que divergem sobre os motivos dos ataques. Para o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira, há uma reação das quadrilhas contra a presença de milícias em diversas favelas. As milícias são formadas por policiais e bombeiros que expulsam traficantes das comunidades em ações não oficiais. Esses grupos freqüentemente cobram dos moradores pelos serviços de segurança que prestam.

Por causa dos ataques, o policiamento foi reforçado na cidade, que se prepara para receber turistas para a festa de revéillon em Copacabana. A polícia ocupa 23 favelas.

Ônibus incendiados

Os ataques começaram no início da madrugada, quando oito homens fortemente armados interceptaram dois ônibus que passavam pela alça que liga a Rodovia Washington Luiz (Rio-Petrópolis) à Avenida Brasil, próximo à favela de Cidade Alta, em Cordovil. Um deles era da empresa Itapemirim, com 28 passageiros que seguiam de Cachoeiro de Itapemirim (Espírito Santo) para São Paulo, e o outro da Viação União. Segundo testemunhas, os criminosos não deram tempo para que todos os passageiros descessem dos ônibus. Sete pessoas que viajavam no ônibus da Itapemirim morreram. Há outros dois passageiros em estado grave no hospital, com 90% do corpo queimados.

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Pela manhã, em Bangu, Zona Oeste, mais três ônibus queimados: um da Viação Campo Grande, na Rua Maria Estrela, esquina com a Rua Ministro Ari Franco; os outros dois ônibus estariam na Estrada do Engenho, segundo informações do 14º BPM (Bangu). Segundo policiais, cerca de 20 bandidos da favela Vila Aliança atearam fogo nos ônibus, por volta das 7h.

Delegacias viram alvos

Durante a madrugada a 6ª DP (Cidade Nova) foi atacada a tiros e granada. Balas de fuzil deixaram buracos nas paredes da fachada. A porta da frente foi destruída e o vidro da janela quebrado. A granada explodiu dentro da delegacia e os estilhaços feriram duas pessoas que aguardavam atendimento. A equipe de polícia nada sofreu. Segundo os policiais, os criminosos estavam a pé ou de moto e passaram por um portão que dá acesso à saída do viaduto que vem do Túnel Santa Bárbara.

Na 28ª DP (Campinho), também atacada, um homem que tinha ido fazer o registro de uma ocorrência morreu ao ser atingido por um tiro na cabeça. Ele foi identificado como Luis Carlos Moreira da Silva. Segundo policiais, vários homens numa caminhonete passaram atirando. Teriam sido disparados mais de cem tiros contra a delegacia. Pelo rádio policiais comunicavam aos colegas que delegacias estavam sendo alvos de bandidos. A 44ª, a 4ª e a 21ª DP foram fechadas preventivamente.

Todo o efetivo da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil) foi colocado em ação e todos os comandantes de batalhão da PM foram acordados para botar as tropas na rua. Policiais de folga também foram convocados.

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Ataques na Zona Sul e na Barra

Em Botafogo, perto do Botafogo Praia Shopping, uma cabine da PM foi atacada a tiros (leia também: testemunha conta o que viu). Uma ambulante, Sueli Maria de Souza, de 33 anos, que passava pelo local com o filho de 6 anos foi atingida e morreu. A criança, Gabriel Lima Brito, foi baleada de raspão na cabeça e levado ao hospital. O menino não corre risco de morrer. Um policial militar também ficou ferido no ataque. Segundo uma amiga da família, Sueli morava na Praia de Botafogo e estava indo para casa quando levou o tiro.

Na Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa, outro ataque, em frente ao prédio onde mora o ex-secretário de segurança do Rio, Marcelo Itagiba, deputado federal eleito (PMDB). Um policial militar, que tinha um ponto fixo de policiamento próximo ao número 1.374, levou 12 tiros. Ele foi levado para o Hospital Miguel Couto, no Leblon, mas já chegou morto. Na Barra da Tijuca outro PM, identificado como Marcelo da Silva Oliveira, morreu num ataque a tiros próximo a um shopping. Um bandido também morreu e outro PM ficou ferido.

Ataques também na Zona Norte

Dois policiais militares foram baleados dentro de uma cabine em Del Castilho. O mesmo aconteceu em postos de policiamento na Favela Nova Holanda, no conjunto de favelas da Maré e no bairro de Rocha Miranda. A polícia chegou a apreender com um bandido, que morreu em um hospital, um fuzil M16, armamento usado pelas tropas americanas. Em Madureira um grupo atacou a 29ª DP. Num outro ponto do bairro, uma granada foi jogada num carro da Polícia Militar.

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O Posto de Policiamento Comunitário (PCC) do Alto da Boa Vista também foi atacado. Um sargento e um soldado da PM foram baleados e levados ao hospital. E na Avenida Perimetral, no início da manhã, uma patrulha do Batalhão de Vias Especiais foi atacada. Uma bala atingiu o vidro traseiro, mas ninguém ficou ferido. Na Auto-Estrada Grajaú-Jacarepaguá mais uma cabine da Polícia Militar foi metralhada.

Baixada Fluminense

Em Nilópolis, no bairro Olinda, bandidos atacaram uma cabine do 20º BPM (Mesquita). Os policiais reagiram e dois homens foram mortos. Uma pistola e uma granada foram recuperadas e levadas para a 57ª DP (Nilópolis). Na entrada de Duque de Caxias, próximo a Vigário Geral, alguns homens tentaram fazer um ataque a um carro do 15º BPM, mas os policiais reagiram e os bandidos conseguiram fugir.

Também em Itaboraí

Bandidos atacaram uma agência da Caixa Econômica Federal em Itaboraí. O restaurante popular da cidade também virou alvo.

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Ataques na véspera

Na quarta-feira já tinham sido registrados incêndios em ônibus. Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, traficantes atearam fogo a um coletivo da linha Nova Campina-Passeio, da Viação Trel, que foi completamente destruído. A polícia desconfia que o incêndio tenha sido causado por traficantes da comunidade, em represália à morte do "gerente" do tráfico local, conhecido como Eddie Murphy, no dia anterior.