"Sou o candidato das catacumbas"
O deputado Osmar Serraglio aposta em uma estratégia de campanha oposta à do colega de partido Michel Temer. Enquanto o rival favorito costura apoios entre os líderes dos principais partidos e se esforça para manter o respaldo do presidente Lula, o representante paranaense apela para o corpo a corpo "virtual". Há duas semanas ele faz 50 telefonemas diários e manda cartas aos deputados-eleitores.
Azarão na disputa à presidência da Câmara dos Deputados, o paranaense Osmar Serraglio (PMDB) sofre para conquistar votos até entre os parlamentares do Paraná. Dos 30 representantes do estado na Casa, apenas oito incluindo o próprio Serraglio garantem que irão votar nele. O favorito Michel Temer (PMDB-SP) tem 11 votos declarados e outros 11 parlamentares afirmam que estão indecisos.
A reportagem consultou a bancada do Paraná entre terça e sexta-feira da semana passada. A eleição está marcada para o dia 2 de fevereiro e ainda tem outros dois candidatos Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI). A votação é secreta e o voto de todos os 513 deputados tem peso igual.
Serraglio, porém, considera positivo o resultado do levantamento. Segundo ele, muitos aliados ficam constrangidos ao declarar o voto porque são forçados a obedecer acordos partidários. O deputado agradece os sete votos explícitos e garante que pode avançar entre os indefinidos.
"Essa situação é a mesma que eu vivi em 2007, quando o Gustavo Fruet (PSDB) foi candidato à presidência. Eu era vice-líder do PMDB e disse que votaria no Arlindo Chinaglia (PT-SP), que era apoiado pelo meu partido. Mas na hora eu votei no Fruet", diz.
Paranaense por adoção, Serraglio nasceu em Erechim (RS) e fez carreira política em Umuarama, no Noroeste do Paraná. A candidatura dele não tem o apoio do PMDB, que há três meses escolheu Temer como nome oficial. Serraglio participará como candidato avulso, sem respaldo da legenda, o que dificulta qualquer negociação com líderes partidários.
Entre os paranaenses que garantem o voto para o deputado, há apenas dois entre seis peemedebistas (fora Serraglio): André Zacharow e Marcelo Almeida. Até agora, ele não sensibilizou nenhum dos quatro representantes do PT, partido que apoia Michel Temer; nem dos três do PP de Ciro Nogueira.
"O Serraglio é meu irmão, mas pertenço a um partido e não posso deixar de seguir a orientação dele", afirma Moacir Micheletto (PMDB). "Gosto muito do Serraglio, mas não posso desfazer um acordo que foi costurado pelo partido. Não estaria certo", diz Eduardo Sciarra (DEM).
Ambos anunciaram voto em Temer, que também conta com o apoio do PR, PSC, PDT e PSDB. Os que dizem que irão desrespeitar o acordo feito pelos caciques das legendas alegam que eleger um representante do Paraná como presidente da Câmara é mais importante do que sofrer represálias internas nos partidos. "Antes de ser partidário, eu sou paranaense", opina Abelardo Lupion (DEM).
Na mesma linha, Ratinho Júnior chegou a procurar a liderança do PSC para explicar a situação. "Entendo que é necessário jogar junto com o partido. Mas a minha independência é maior do que isso e o Serraglio é uma força política do Paraná que precisa do meu voto."
Entre os 11 que se declararam indecisos, apenas Ricardo Barros (PP) afirmou que não pensa em votar em Serraglio. Barros é vice-líder do governo, que apoia Temer, e do mesmo partido de Ciro Nogueira. "Eu ainda acredito em um acordo que possa conciliar a posição dos dois."
O deputado do PP declarou que só vai se decidir no domingo que vem, data em que os candidatos devem se inscrever para o pleito. Até agora, nenhum dos quatro candidatos comentou a possibilidade de desistência. "Talvez só exista volta para o Temer", cutuca Serraglio.
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