Discussão de projetos fica em 2.º plano
Enquanto as bancadas de apoio ao governo e da oposição lutam pelo direcionamento das investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as ligações de Carlos Cachoeira com o poder público, o Planalto assiste de longe. E com preocupação. O temor da presidente Dilma Rousseff (PT) é de que as investigações paralisem o Congresso, azedem as relações entre os partidos e interfiram na execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A paralisação do Congresso já pode ser sentida. Há duas semanas pouco se fala, por exemplo, da Lei Geral da Copa. Cachoeira domina os trabalhos e as atenções dos parlamentares. No caso deste projeto, o Planalto já anunciou acordo para colocá-lo em votação até maio. No caso de outros, entretanto, isso pode ser mais difícil.
Além disso, há a possibilidade de a CPMI ser usada como elemento de barganha para eventuais dissidentes da base aliada. Ela tem potencial, também, para causar atritos entre governo e oposição. Por último, as ligações de Cachoeira com a empresa Delta podem prejudicar obras do PAC. Mas o governo federal já começou a reagir e está tentando se afastar da Delta.
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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as ligações de empresas e do poder público com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem um grande potencial de provocar danos ao Palácio do Planalto. Apesar de ter respingado em grandes nomes da oposição, como o senador Demóstenes Torres (GO), que deixou o DEM, a rede de influência do bicheiro envolve empreiteiras e outras empresas que têm negócios com o governo federal.
As investigações vão ter início efetivamente na quarta-feira, um dia após o prazo final para os partidos indicarem os 32 membros que devem compor a comissão, criada na quinta-feira passada. Alguns partidos já indicaram seus nomes, e o presidente deve ser o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O relator provavelmente será um deputado do PT o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vacarezza é um dos nomes cotados.
A CPMI terá inicialmente 180 dias para apresentar seu relatório final o prazo pode ser prorrogado. O primeiro passo que os 32 parlamentares precisam dar é definir o direcionamento para os trabalhos. Isso não será uma tarefa simples. Oposição e governo têm duas pautas distintas para as investigações. A tendência é que os oposicionistas foquem suas atenções principalmente nas ligações de Cachoeira com a empresa Delta, que recebeu R$ 4,1 bilhões do governo federal nos últimos cinco anos e pode ser um elo entre o contraventor e governo federal. Líderes oposicionistas já falam em convocar o presidente da empresa, Fernando Cavendish, para iniciar as investigações.
A bancada de apoio ao Planalto quer manter o foco nas ligações de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e com governadores oposicionistas, como Marconi Perillo (PSDB-GO). Além disso, lideranças petistas já manifestaram o interesse de convocar o presidente da Editora Abril, Roberto Civita, para depor. A estratégia seria ligar Cachoeira à oposição e à revista Veja, tratada como inimiga pelo partido.
Vantagem
Pelos números, a bancada governista conta com larga vantagem sobre a oposição. São 24 parlamentares de um lado e sete do outro, além de um independente. Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, isso mostra certa vantagem, mas não significa que a oposição não conseguirá impor sua pauta de investigações. PSDB, PPS e DEM podem ser ajudados pela pressão da imprensa e contar com a instabilidade da base.
A bancada governista é muito mais dividida do que a oposição. Doze ntegrantes são filiados ao PMDB, PSC, PR e PTB, partidos que, recentemente, tiveram desentendimentos com o PT e seus aliados mais próximos três desses partidos, inclusive, ensaiaram deixar a base de apoio. Se esses conflitos reemergirem, o que não é improvável, a oposição pode contar com esse apoio para interferir nos rumos das investigações.
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