A disputa pela presidência da Câmara, nas mãos de Waldir Maranhão (PP-MA) desde que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi afastado do mandato, já situa em lados opostos a base aliada do governo interino de Michel Temer. O principal duelo de forças para escolher o novo presidente acontecerá entre a velha oposição (PSDB, DEM e PPS), que pode se aliar ao PT, contra partidos do “Centrão” (sobretudo PP, PR, PSD e PTB).
De olho na eleição de 2017, alas do PT e do PSDB, adversários históricos, admitem que poderão se unir a fim de eleger um candidato de consenso para um “mandato-tampão”, com a saída de Cunha. A ideia é dar normalidade aos trabalhos da Casa e apaziguar os ânimos. “Em se confirmando a cassação do Cunha, temos de buscar um nome que restaure a dignidade do parlamento”, afirmou o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE). “Temos de ter cuidado para não termos um ‘Eduardo Cunha 2’”, afirma um tucano, sem querer se identificar.
O “mandato tampão”, que iria até o início do ano que vem, atrai candidatos porque devem ser votadas matérias importantes para o governo Temer. O novo presidente poderia ainda influenciar na eleição de seu sucessor.
Vice-líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT) defende a união de forças. Ele acredita que uma disputa acirrada, neste momento, “é ruim para todo mundo”: “É um momento de buscar um consenso geral na Câmara e escolher um presidente que tenha credibilidade, entenda seu papel e o desafio do momento. Para uma presidência que vai durar seis meses, dividir seria ruim para todo mundo”, disse Leitão.
Racha interno
O Centrão teme que a possibilidade cada vez mais concreta de Cunha ser cassado enfraqueça o grupo, que deverá chegar fragmentado à disputa. Além de Jovair Arantes (PTB-GO), aliado do presidente afastado e que já pede votos aos colegas, começam a se formar subgrupos de poder interessados em ganhar a eleição ou apoiar outros colegas. Deputados desses partidos admitem que sua chance de fazer o sucessor cresce se Cunha renunciar – o que ele diz que não fará. PP e PR são os partidos mais divididos neste momento.
A divisão do grupo favorece a velha oposição. Segundo parlamentares, líderes de partidos do Centrão têm muito menos controle sobre o voto de seus deputados do que os líderes de PSDB e DEM e também de legendas de esquerda, como PT e PDT. A traição de parlamentares nesses grupos, dizem, é bem menor. “A frente para enfrentar o Centrão vem justamente de um entendimento das oposições ao governo Dilma e ao governo Temer. Vai ser difícil competir com isso, ainda mais com tantas divisões no nosso grupo. A própria cassação do Cunha nos enfraquecerá muito”, disse um deputado do Centrão.
Líderes do bloco calculam que o grupo se mantém forte porque tem 210 votos e contará com 69 do PMDB. Os líderes e aliados do Centrão ironizam a articulação entre parlamentares petistas e tucanos. “Imagina PSDB e PT juntos! Esse é um risco que não corremos”, provoca o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP).
O PMDB, partido de Temer, acompanha de longe as movimentações e a disputa entre os partidos da base aliada e as conversas com a nova oposição. Peemedebistas sabem o estrago que uma disputa na base aliada poderá causar. “O PMDB não está discutindo isso neste momento. Da nossa parte, seria precipitado discussão sobre presidência”, disse o líder Baleia Rossi (SP).
“Pré-candidatos”
A disputa para o “mandato-tampão” seduz todas as correntes da Câmara e já tem diversos pré-candidatos, alguns em franca campanha eleitoral. Além de Arantes, o segundo vice-presidente da Câmara, Fernando Giacobo (PR-PR), também do Centrão, já manifestou interesse. Com a ausência de Waldir Maranhão, ele tem presidido as sessões e é considerado por parlamentares um presidente que poderia dar normalidade à Casa até 2017.
Com o recall de quem já participou de outras disputas, incluindo a vencida por Cunha, Júlio Delgado (PSB-MG) também está no páreo, embora não o admita publicamente. Ele teve o inquérito da Lava Jato contra ele arquivado na semana passada. Mas sua atuação forte contra Cunha no Conselho de Ética, que lhe rendeu pontos com a opinião pública, pode ser um complicador com os eleitores deputados. “Ele ficou muito marcado como a figura do agressor. Deputado gosta de traição, mas ninguém gosta do traidor, e isso pode ter queimado o Júlio”, opinou um parlamentar.
Outro nome que desponta entre parlamentares é o de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele tem apoio de boa parte do PSDB, tem relação com parte do PT e PCdoB e interlocução com alas do Centrão.
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