O bloqueio dos celulares em seis presídios paulistas começou nesta sexta-feira e já causa problemas para a população que mora ou trabalha perto das penitenciárias de Araraquara, Avaré, Franco da Rocha, Iaras, Presidente Venceslau e São Vicente. As operadoras não se manifestam sobre o assunto e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que está concentrando as informações, ainda aguarda relatórios de técnicos sobre o cumprimento da medida judicial.
Uma fonte do setor garante que, numa avaliação preliminar, cerca de 400 mil clientes das três operadoras do estado de São Paulo - Vivo, TIM e Claro - serão atingidas pelo bloqueio nas seis localidades. Ainda não se sabe qual cidade será mais afetada. Mas essa fonte aponta São Vicente, porque, além de ter um número expressivo de usuários de celular, recebe muitos turistas que utilizam o serviço de "roaming".
- Não vai ser a cidade inteira, mas boa parte da cidade vai ficar sem cobertura - afirmou.
Profissionais que atuam nos arredores de presídios admitem temor com a violência, mas se queixam de terem sua rotina prejudicada pela medida. Em Humaitá, bairro na área continental de São Vicente, onde está o complexo penitenciário à beira da Rodovia Manoel da Nóbrega, a cabeleireira Josélia Martins de Oliveira está bastante preocupada porque, por volta de 11h desta sexta, ficou sem comunicação.
- Preciso do celular para marcar e desmarcar clientes e hoje ainda é sexta-feira, meu melhor dia de trabalho, nem sei o que vai ser de mim - disse Josélia, sem despregar os olhos do aparelho em busca de que o sinal de repente voltasse. Seu salão de beleza fica a cerca de 2,5 quilômetros da prisão.
Perto dali, o pedreiro Luís Carlos Azevedo contou que o seu celular ainda funcionava, embora "nem ligasse" de ficar sem o serviço.
- Se for melhor para manter bandido na cadeia, eu acho até que é bom - afirmou.
No interior do estado, em Avaré, o consultório da fisioterapeuta Melina Silvestre, que possui telefone fixo, fica a duas quadras do presídio.
- Ainda não uso muito celular no trabalho, mas acho que é ruim para as outras pessoas que dependem disso - afirmou em conversa pelo telefone celular perto das 13h desta sexta-feira. Melina recebeu a informação de que a linha será bloqueada a partir das 14h.
Em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, empresários de um parque industrial próximo à penitenciária estão preocupados com a medida. Muitos têm planos de telefonia móvel corporativa para tocar os negócios.
- Muitos funcionários precisam do celular - afirma José Teodoro.
Nas ruas, a população se divide. Alguns acreditam que a medida é necessária, mas outros estão inconformados por ficar sem comunicação. Aramis Funchal, que mora entre um presídio e duas antenas de telefonia celular, afirma que o governo precisa achar uma alternativa.
- Se tem celular dentro da cadeia é porque os governantes permitem, seja pela corrupção ou por outras coisas - diz.
Em Iaras, no interior do estado, o prefeito Paulo Sérgio de Moraes afirma que o bloqueio ainda não provocou problemas, mas está preocupado com a falta de informações oficiais. O presídio fica a um quilômetro da cidade, que poderá ser bastante afetada. A população é de cerca de 3,6 mil habitantes.
- Por enquanto, nada foi cortado. Estamos sem qualquer posição oficial e não sei como as coisas vão ficar - diz Moraes, numa reclamação semelhante a da Prefeitura de Franco da Rocha. Ela afirma que não foi consultada e que poderá pedir um outro tipo de solução para o problema, que não afete a população.
A medida judicial de bloqueio de celulares foi adotada em decorrência da onda de violência no estado que teve início há uma semana. As autoridades de segurança afirmam que o celular é "pior que arma" porque garante a comunicação de lideranças de uma organização criminosa com integrantes da quadrilha que teriam perpetrado ataques a policiais e civis. Em seis dias, 152 pessoas morreram, sendo 107 suspeitos de crimes.
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