O Ministério Público Federal denunciou à 7.ª Vara Federal Criminal 11 investigados por crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica na Operação Irmandade, desdobramento da Lava Jato, no Rio. O juiz federal Marcelo Bretas recebeu a denúncia e, a pedido do Ministério Público Federal, decretou a prisão preventiva de Samir Assad, irmão do empresário e lobista Adir Assad, já condenado na Lava Jato.
Samir foi detido em casa na manhã desta quarta-feira (10) na deflagração da Irmandade, pela Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor) da Superintendência do Rio de Janeiro. Também foram realizadas buscas no local.
A denúncia acusa Samir por 223 crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica (Lei 9.613/98, art. 1º, §4º, e C.P., art. 299) além de organização criminosa (Lei 12.850/2013, art. 2º, § 4º, II), por liderar, ao lado do seu irmão Adir Assad, já preso preventivamente, o núcleo financeiro operacional responsável por empresas de fachada que intermediavam o repasse de vantagens indevidas e geravam “caixa 2” para pagamentos de propina em espécie pela construtora Andrade Gutierrez a diretores da Eletronuclear na construção da Usina de Angra III, conforme apurado nas operações Radioatividade e Prypiat.
“Integravam esse núcleo em posição de destaque Marcello Abbud e Mauro Abbud. Esses quatro acusados utilizaram durante anos uma cadeia de empresas de fachada especializada em fornecer recibos falsos e notas fiscais frias para grandes construtoras, sendo que na Operação Irmandade, deflagrada hoje, foram usadas pela Andrade Gutierrez as empresas Legend Engenheiros Associados, SP Terraplenagem, JSM Engenharia e Terraplenagem e Alpha Taxi Aéreo Ltda”, aponta a Procuradoria da República, no Rio.
“Juntas, elas abasteceram o “caixa 2? da construtora em mais de R$ 176 milhões, também usados para pagar propinas nas obras de estádios para a Copa do Mundo de 2014, do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da Ferrovia Norte-Sul.”
Segundo a denúncia, o esquema era e ainda é constituído por diversas empresas fictícias, algumas já baixadas e outras em franca atividade formal, numa sucessão de constituições societárias só no papel, para a venda de notas fiscais de serviços nunca realizados, a fim de permitir que grandes empreiteiras formassem uma milionária reserva de dinheiro não contabilizado para ocultar e dissimular o pagamento de propina a agentes públicos e políticos.
Também foram denunciados Sandra Branco Malagó, Sonia Malagó e Raul Tadeu Figueroa, que teriam participado da lavagem, ‘assinando contratos e recibos falsos pelas empresas de fachada, e os ex-executivos da Andrade Gutierrez Rogério Nora de Sá, Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, Flávio David Barra e Gustavo Ribeiro de Andrade Botelho’. A denúncia registra que a Andrade Gutierrez está ‘colaborando com as investigações, já tendo apresentado algumas provas da materialidade dos crimes, que foram confirmadas por dados obtidos a partir de quebras de sigilo fiscal e bancário autorizados pela Justiça’.
Para os procuradores Lauro Coelho, Eduardo El Hage, Leonardo de Freitas e José Augusto Vagos, “a prisão de Samir é fundamental porque esse acusado também chefia a organização, e algumas de suas empresas fictícias, muitas delas em nome de “laranjas”, ainda encontram-se ativas e com potencial de reiterar a prática delitiva. Embora seu irmão Adir já tenha sido preso antes neste e em outros feitos, a estrutura criminosa não será totalmente desmantelada sem a prisão de toda a sua cúpula de comando”.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”