Meta brasileira
País quer ser mediador de conflitos
Especialistas em relações internacionais afirmam que a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é uma tentativa do Brasil de, ao agir como mediador de conflitos internacionais, mostrar que pode ter um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas alguns deles também advertem que essa visita, em vez de ajudar a ganhar a cadeira, pode afastar o país dela.
Para o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, ao discutir com Ahmadinejad o programa nuclear iraniano e o processo de paz no Oriente Médio, o Brasil pretende avançar como mediador de conflitos internacionais. Se a iniciativa for bem-sucedida, o país ganha mais respaldo na busca pela cadeira na ONU.
Brasília - A visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, selou ontem a troca mútua de apoio entre os dois países em torno de seus maiores objetivos diplomáticos atuais: o reconhecimento internacional da legitimidade do programa nuclear iraniano e a pretensão brasileira em conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ahmadinejad defendeu, em discurso ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, uma ampla reforma do Conselho de Segurança da ONU e a inclusão do Brasil nesse organismo como integrante permanente. "Apoiamos o Brasil como um membro permanente", declarou o iraniano, em um discurso em que chamou Lula de "bom amigo". Atualmente, apenas cinco países têm cadeira permanente e poder de veto no Conselho: EUA, China, Rússia, França e Reino Unido.
Em troca, Lula defendeu a política iraniana de enriquecimento de urânio afirmando que ela não está voltada para fins militares. "O que nós temos defendido há muito tempo é que o Irã tenha o direito de desenvolver o enriquecimento de urânio para fins pacíficos, tanto quanto o Brasil está se desenvolvendo. É simples", disse Lula.
O apoio de Lula ao programa nuclear iraniano é considerado uma vitória diplomática do Irã. Lula hoje é uma reconhecida liderança internacional e o Brasil, uma potência emergente o que dá um peso maior ao apoio ao Irã.
A declaração de Lula vem exatamente em um momento em que o Irã está sendo duramente criticado principalmente pelos EUA e por Israel por supostamente desenvolver armas atômicas através de um programa alegadamente pacífico. O programa nuclear iraniano, no discurso, é voltado para o abastecimento de usinas nucleares de eletricidade. Mas a recente descoberta de uma central nuclear clandestina em Qom, no interior do Irã, aumentou as suspeitas de que o programa se destina à construção de armas nucleares.
A comunidade internacional tenta pressionar o Irã a aceitar a enviar seu urânio para ser enriquecido em outros países que já detenham a tecnologia, de forma que os iranianos não venham a dominar o ciclo completo do enriquecimento. Quem domina esse ciclo pode desenvolver ogivas atômicas.
Ahmadinejad disse ontem que seu país não é contrário à proposta do enriquecimento do urânio em outras nações. Porém, ele afirmou que as grandes potências as quais não nominou vêm impondo resistências que, para ele, são inaceitáveis. "Queremos comprar o combustível (urânio enriquecido). Mas os que vão vender estão definindo as condições, inclusive as políticas e técnicas. Isso não é certo. Cabe ao comprador (defini-las)", disse o iraniano. Ahmadinejad afirmou ainda que a ideia de enriquecer o urânio em outros países partiu do próprio Irã e que as grandes potências teriam se apropriado dela. Nos países contrários ao Irã, especula-se, porém, que o discurso de aceitar o acordo é apenas para ganhar tempo para desenvolver as armas nucleares.
Durante seu discurso no Brasil, Ahmadinejad também disse apoiar o que chamou de "avanços" do Brasil no domínio da tecnologia nuclear. Já Lula falou de aspirações comuns dos dois países nas áreas de desenvolvimento científico e energia sem citar claramente se Brasil e Irã vão trocar experiência nuclear (o brasileiro falou apenas em transferir tecnologia de carros movidos a álcool e gás). No encontro, foram firmados vários acordos comerciais e de cooperação entre os dois países, inclusive em geração de energia.
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