Após o depoimento à polícia e ao Ministério Público, o advogado Rogério Buratti, que foi secretário do ministro Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, fez uma rápida declaração à imprensa, em tom de desabafo, na saída da delegacia, nesta sexta-feira. Apontado como operador de um esquema de repasse de recursos de empresas de lixo para diversas prefeituras, Buratti argumentou que, se cometeu algum erro, foi por razões políticas, por um projeto político.

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Segundo promotores que ouviram o depoimento na Delegacia Seccional de Ribeirão Preto, Buratti afirmou que Palocci recebia propina de R$ 50 mil mensais da empresa Leão & Leão, na época em que era prefeito de Ribeirão Preto. Os recursos seriam repassados ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que os utilizaria para financiar campanhas do partido. Buratti, que foi assessor de Palocci na Prefeitura, fez um acordo com promotores para revelar tudo o que sabe sobre irregularidades em prefeituras paulistas, em troca de redução de pena (delação premiada).

- Ele diz que ouviu do Ralf (Ralf Barguetti), então secretário, que o Palocci determinava a entrega desse dinheiro ao diretório nacional do PT em São Paulo (para o esquema de Delúbio) - contou o promotor Sebastião Sérgio da Silveira.

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Segundo informou o promotor, Buratti disse que o pagamento da propina era feito para que a prefeitura mantivesse o contrato de prestação de serviços de coleta de lixo com a empresa. Os pagamentos teriam acontecido entre 2001 e 2002, quando Palocci deixou a prefeitura para colaborar na campanha de Lula e posteriormente ser ministro da Fazenda. O dinheiro seria recebido por um outro assessor de Palocci, chamado Ralf Barguetti, morto no ano passado vítima de câncer. Seria ele quem repassaria o dinheiro para as mãos de Delúbio. De acordo com o promotor, o fato de Ralf estar morto não prejudica as investigações.

- O saque era feito em dinheiro nos bancos Banespa e Bradesco, sempre através de notas frias que eram compradas no mercado. Ou as notas eram fornecidas pelo beneficiário ou a própria Leão providenciava - explicou o promotor, baseado no depoimento de Buratti.

Ainda de acordo com o que contou o promotor, com base no depoimento de Buratti, depois que Palocci saiu da prefeitura, o dinheiro passou a ser recebido por Gilberto Maggione, do PL, que era vice de Palocci. Esses pagamentos teriam seguido até dezembro de 2004.

Segundo o promotor, outras prefeituras se utilizavam do mesmo esquema. Ele informou que está analisando caso a caso. Buratti teria falado até agora sobre a prefeitura de Matão, onde a propina seria equivalente a 15% do pagamento do contrato.

- Ribeirão Preto não era porcentagem porque, segundo ele, o preço foi acertado. Nas outras cidades, o preço varia entre 5% e 15% do faturamento - contou o promotor.

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Buratti aceitou a proposta do Ministério Público estadual de delação premiada e afirmou que iria contar tudo o que sabe em troca da redução de pena e de sua liberdade provisória. Ele teria dito que teme por sua própria vida, e ouviu dos promotores que a melhor maneira de se proteger é falar.

Neste mês, a CPI dos Bingos e o Ministério Público identificaram telefonemas de Buratti para a casa de Palocci em Brasília. Essas ligações teriam ocorrido no período em que o contrato da GTech com a Caixa estava sendo negociado.

O advogado foi detido na quarta-feira depois que o Ministério Público interceptou telefonemas dele para o corretor Claudinet Mauad, nas quais o advogado determinava a destruição de provas. Os papéis apreendidos apontam para a existência de um esquema de compra e venda que seriam indícios de lavagem de dinheiro. Nas conversas gravadas, Buratti quer saber do corretor o que a polícia perguntou. Ele indaga, por exemplo, se os contratos apreendidos estavam assinados. E orienta o corretor para que o antigo proprietário de uma fazenda comprada por ele em Franca fale à polícia apenas sobre o valor que consta no documento (R$ 350 mil).

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