O show tem de continuar
Cachoeira não falou, mas os membros da CPMI sim:
"Eu, que sou apresentadora de um programa de televisão [de culinária], dessa cozinha não vou participar."
Íris de Araújo (PMDB-GO), deputada federal e apresentadora do programa Cozinhando com Dona Íris.
"O seu silêncio não é o silêncio dos inocentes."
Silvio Costa (PTB-PE), deputado federal, se dirigindo a Cachoeira e citando o filme estrelado por Jodie Foster.
"Só gostaria de perguntar se ele é ele mesmo."
Fernando Francischini (PSDB-PR), deputado federal, estranhando o comportamento de Cachoeira.
"Se houvesse uma cachoeira de respostas, certamente eu indagaria."
Alvaro Dias (PSDB-PR), senador, sobre a estratégia contra o silêncio do bicheiro.
"Estamos aqui perguntando para uma múmia. (...) Não vamos fazer papel de bobo para um chefe de quadrilha com cara de cínico."
Katia Abreu (PSD-TO), senadora, defendendo o fim do depoimento.
Quem esperava ouvir o bicheiro Carlinhos Cachoeira falar ontem pela primeira vez sobre o escândalo que toma conta da política nacional há quase três meses acabou presenciando um festival de monólogos de deputados federais e senadores. O contraventor seguiu a estratégia definida pelos seus advogados de defesa e permaneceu em silêncio durante depoimento de pouco mais de duas horas à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as ligações dele com políticos. Nas poucas palavras que disse, contudo, abriu a possibilidade de responder às perguntas dos congressistas após 1.º de junho o que foi entendido como um "recado" para outros envolvidos no caso.
"Constitucionalmente, fui advertido pelos advogados para não dizer nada e não falarei nada aqui, somente depois da audiência [marcada para os dias 31 de maio e 1.º de junho] que terei com o juiz. Se achar que posso contribuir, pode me chamar que responderei a qualquer pergunta", disse, logo na abertura da sessão.
O relator da CPMI, Odair Cunha (PT-MG), adiantou que Cachoeira será reconvocado após a audiência na Justiça. "Mas não se pode esperar que um chefe de quadrilha desse porte esteja realmente disposto a colaborar com as investigações", advertiu o petista.
Para parlamentares como o deputado paranaense Rubens Bueno (PPS), Cachoeira usou a primeira presença na comissão para deixar uma "pista". "Ele começou com uma postura arrogante de ficar calado e depois colocou no ar o recado de que tem muito a falar", avaliou Bueno.
Magro e grisalho
Detido preventivamente no presídio da Papuda, no Distrito Federal, desde o dia 29 de fevereiro, o bicheiro foi ao Congresso escoltado por policiais e vestido com terno e gravata. Mais magro e grisalho do que quando foi preso, permaneceu com as mãos trêmulas todas as vezes que precisou se pronunciar ao microfone. Ficou sentado, sem algemas, ao lado do seu advogado, Marcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça durante o governo Lula.
A decisão de se calar não impediu que pelo menos 14 parlamentares fizessem as perguntas que tinham programado. Primeiro a falar, o relator da CPMI tinha preparado 200 questões e fez apenas cinco. Depois começaram as farpas políticas entre petistas e tucanos.
Vários deputados da oposição, como Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Fernando Francischini (PSDB-PR), insistiram em temas que relacionam o bicheiro ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Um dos poucos petistas a questionar Cachoeira, o deputado Paulo Teixeira (SP) tentou mudar o foco para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Alguns parlamentares até tentaram encerrar o depoimento rapidamente e aproveitar a sessão para decidir sobre assuntos administrativos da CPMI. Não houve, porém, como recuperar o tempo perdido.
Prisão mantida
Por três votos a um, a 5.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou ontem o pedido de libertação de Cachoeira. Thomaz Bastos anunciou que irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa de Cachoeira ontem também informou que ele desistiu de comparecer ao Senado como testemunha de defesa do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) no processo de cassação a que o parlamentar responde no Conselho de Ética. A outra testemunha arrolada por Demóstenes, o advogado Ruy Cruvinel, também não aceitou defender o senador.
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