O caseiro Francenildo Costa, o Nildo, que acusa o ministro Antonio Palocci de freqüentar a casa onde ex-assessores denunciados por corrupção se reuniam, disse no domingo que sua conta bancária foi violada quando estava dentro da Polícia Federal.

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O extrato foi tirado às 20h58m21 da quinta-feira, quando ele estava na PF para se inscrever no programa de proteção a testemunhas, no qual ficou só dez horas. Naquele dia, Nildo tivera seu depoimento na CPI dos Bingos suspenso por força de uma liminar do Supremo Tribunal Federal, pedido pelo PT a mando do presidente Lula. Na noite da própria quinta-feira, os extratos do caseiro circularam no Ministério da Fazenda com assessores de Palocci.

— Eu estava na proteção da polícia, num prédio da Polícia Federal, como é que eu vou sair para tirar um extrato? — perguntou ele.

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Segundo reportagem da "Época", o extrato de Nildo a que a revista teve acesso foi emitido quinta-feira, às 20h58m21s. Ele revelou que o caseiro recebeu R$ 38.860 nos últimos três meses em sua conta na Caixa Econômica Federal. A divulgação deflagrou uma guerra entre o governo e a oposição. Parlamentares do PSDB e do PFL acusaram o governo de ter quebrado sem autorização judicial o sigilo do caseiro. Os governistas tentaram desqualificar o depoimento do caseiro à CPI dos Bingos e insinuaram que ele teria recebido dinheiro para fazer as acusações contra Palocci.

Não há inquérito na PF contra Nildo nem ordem judicial para quebrar seu sigilo, protegido por lei. Nildo abriu uma crise no governo ao contradizer Palocci, dizendo tê-lo visto várias vezes na casa onde seus ex-assessores acusados de tráfico de influência se reuniam. Palocci nega.

PF confirma que pediu cartão

O coordenador de Segurança Institucional da PF, Wilson Damázio, confirmou que, na quinta-feira, o caseiro ficou sob a guarda da PF até por volta das 21h30m. Damázio explicou que foram pedidos os documentos do caseiro, inclusive o cartão bancário, que ficaram com os policiais por cerca de três minutos para fazer cópias.

O delegado ressaltou que esse procedimento é de praxe quando uma pessoa dá entrada no programa de proteção a testemunhas. A PF, segundo ele, negou envolvimento na quebra do sigilo do caseiro, já que só haveria duas formas de fazê-lo: havendo decisão judicial, o que não ocorreu, ou com o conhecimento da senha de Nildo, o que não era o caso. Damázio disse ainda que o próprio caseiro contou, sem ser perguntado, que havia recebido uma grande soma de dinheiro.

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A violação do sigilo bancário de Nildo pôs a Caixa na mira da CPI dos Bingos. Nesta terça-feira será votado um requerimento, que será apresentado nesta segunda-feira pelo PFL, pedindo explicações do banco estatal sobre o vazamento dos dados. O caseiro, por meio de seu advogado, Wlício Chaveiro Nascimento, vai interpelar judicialmente a Caixa.

O PPS entrará na Procuradoria da República no Rio com uma representação criminal contra a quebra ilegal do sigilo bancário de Nildo segundo o presidente nacional da sigla, Roberto Freire (PE). "Hoje é o direito do caseiro a ser violado, amanhã pode ser o de qualquer outro cidadão. Basta ser inimigo do governo para se tornar alvo de um Estado cujas instituições estão sendo usadas para perseguir, como ocorre em regimes ditatoriais", disse Freire no site do partido.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá analisar a situação envolvendo Palocci na reunião de coordenação de governo marcada para a manhã desta segunda-feira. O governo mantinha a blindagem em torno do ministro, mas ficou preocupado com a reação da oposição à quebra do sigilo. Todos rechaçam o envolvimento do governo nessa questão.

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