Investigado por desvios da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), o novo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, estaria envolvido em outro esquema de corrupção: o mensalão do PT. De acordo com a reportagem da revista "Veja" desta semana, a participação de Vaccari no escândalo que abalou o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era fundamental para a arrecadação de recursos para pagar parlamentares em troca de apoio político.

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A reportagem mostra que, em 2003, enquanto cuidava das finanças da Bancoop, Vaccari acumulava a função de administrador informal da relação entre o PT e os fundos de pensão das empresas estatais, bancos e corretoras. Para arrecadar recursos, ele cobrava propinas que poderiam variar entre 6% e 15%, dependendo do porte do cliente e do negócio. No entanto, uma investigação sigilosa da Procuradoria-Geral da República aponta que o valor padrão era de 12%, para quem estivesse interessado em se associar ao partido com a finalidade de saquear os cofres públicos.

O suposto envolvimento do novo tesoureiro do PT com mensalão foi denunciado pelo corretor Lúcio Bolonha Funaro. De acordo a "Veja", Funaro é considerado um dos maiores especialistas em cometer fraudes financeiras do país.

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A revista informa que o corretor fez um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República em 2005, quando estava na iminência de ser denunciado como um dos réus do processo do mensalão. Ele, então, entregou aos investigadores dados que incriminariam o deputado paulista Valdemar Costa Neto (PR). Valdemar é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

De acordo com os depoimentos aos quais "Veja" teve acesso, Funaro falaria do papel de Vaccari no esquema. O corretor prestou cinco depoimentos ao Ministério Público Federal em que forneceu outras informações comprometedoras sobre o trabalho do tesoureiro. Funaro informou que, entre 2003 e 2004, Vaccari era o responsável pelo recolhimento de propina entre interessados em fazer negócios com os fundos de pensão de empresas estatais no mercado financeiro e que o tesoureiro concentrava suas ações e direcionava os investimentos de cinco fundos - Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica), Nucleos (Nuclebrás), Petros (Petrobras) e Eletros (Eletrobrás) -, cujos patrimônios, somados, chegariam a 190 bilhões de reais.

O segredo em torno desses depoimentos fez com que Funaro guardasse cópias deles num cofre no Uruguai. "Se algo acontecer comigo, esse material virá a público e a República cairá", ele teria dito a amigos.

Ainda em depoimento, Funaro disse que Vaccari agiria em parceria com o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e sob o comando do ex-ministro José Dirceu. O dinheiro arrecadado iria para o caixa clandestino do PT, usado para financiar as campanhas do partido e subornar parlamentares.

No final de 2004, Funaro mantinha uma relação lucrativa com Valdemar Costa Neto. Durante a campanha de 2002, o corretor emprestara R$ 3 milhões em dinheiro vivo ao deputado, que, por sua vez, foi cobrar favores do PT. Foi então que Valdemar procurou Delúbio Soares, que indicou João Vaccari Neto.

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Num encontro entre eles, Vaccari contou que cabia a ele intermediar operações junto aos maiores fundos de pensão. Para entrar no suposto esquema, Funaro e Valdemar deveriam conseguir um parceiro e uma proposta de investimento.

Referindo-se a Delúbio sempre como "professor", Vaccari explicou que o PT havia dividido o comando das operações dos fundos de pensão: o petista Marcelo Sereno, então assessor da Presidência, cuidava dos fundos pequenos e Vaccari, dos grandes.

Durante a última semana, Vaccari declarou que, no caso Bancoop, ele e outros dirigentes da cooperativa são inocentes. Os culpados, para ele, são seus acusadores e suas vítimas. Com o objetivo de provar sua inocência, o tesoureiro do PT disse que os problemas de caixa da cooperativa ocorreram por conta do comportamento de cooperados que sabiam que os preços iniciais dos imóveis eram estimados e não quiseram pagar a diferença depois que foram constatados os erros de cálculo nas estimativas.