Em seu primeiro dia como presidente da Câmara, o petista Arlindo Chinaglia (SP) disse não acreditar que a disputa com Aldo Rebelo (PCdoB-SP) deixe fissuras na base aliada. Segundo ele, agora que terminou a eleição as conversas devem recomeçar em tom amistoso.
- Eu diria, no máximo, uma canelada - disse.
Preocupado com as seqüelas da disputa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a tomar providências antes mesmo de iniciar a votação. Pediu ajuda dos governadores aliados para trabalhar na recomposição da base aliada. E fez um apelo pelo entendimento.
- Me ajudem a não deixar esses meninos brigarem. Em qualquer circunstância, tem que haver uma recomposição - disse Lula, na véspera.
Chinaglia prometeu nesta sexta-feira conversar com todos os líderes para decidir a pauta da Câmara e tratar com igualdade todos os partidos. Disse que agora representa a Câmara e que a disputa com a oposição caberá ao novo líder do governo.
O petista disse ainda que o megabloco formado por oito partidos na Câmara deve se dissolver logo após as indicações para as comissões. O petista admitiu que o PMDB se dividiu entre ele e Aldo Rebelo, mas lembrou que ambos são da base aliada.
- O PMDB realmente se dividiu, mas entre duas forças de governo. Nas votações, vamos caminhar juntos - disse.Petista promete empenho para votar reformas política e tributária
Chinaglia prometeu empenho para votar matérias importantes para o país, como as reformas tributária e política, matérias polêmicas que dependem de acordo político. Segundo ele, é preciso "criar condições especiais" para votar as duas matérias, com as quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu logo após ser reeleito. O petista prometeu criar as comissões temáticas para análise das duas reformas.
Prevista no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a reforma tributária é vista como um importante instrumento para o crescimento do país porque pode reduzir a burocracia e simplificar o sistema tributário. A complexa legislação tributária brasileira preocupa os investidores porque eleva a carga tributária, reduz a competitividade das empresas e estimula a informalidade e a corrupção. É alvo de disputa entre o governo federal, estados e municípios, que temem perder receitas com as mudanças que vêm sendo propostas.
Já a reforma política criaria instrumentos que podem fortalecer a democracia representativa, corrigindo vícios do atual sistema político, como o troca-troca de partido. No debate com os demais candidatos à Câmara na semana passada, Chinaglia defendeu o financiamento público das campanha por fortalecer os partidos e obrigá-los a se organizarem. Também disse ser favorável à votação em lista fechada de candidatos, mas demonstrou preocupação com a possibilidade de ela "tirar do povo e dos cidadãos a oportunidade da escolha" dos candidatos. O petista disse ser contra o voto distrital puro por transformar o parlamentar numa espécie de vereador.
Chinaglia nega que tenha defendido reajuste de 92% na campanha
Mais cedo, em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da TV Globo, o petista negou que tenha defendido, durante a campanha, a proposta de reajuste de 92% dos salários dos parlamentares. O novo presidente da Câmara disse que é a favor de um aumento ou uma reposição da inflação e levará a proposta para ser discutida pelo plenário.
- Não é verdade que eu defendi o aumento de 92% durante a campanha. O que ocorreu é que o presidente Aldo e o presidente Renan deixaram para levar essa proposta aos líderes no meio da disputa eleitoral. Eu fui o penúltimo líder a opinar. Ali, todos, exceto do PT e do PSOL falaram a favor. Portanto, era uma disputa eleitoral - afirmou.
O petista também defendeu que o teto dos servidores públicos seja guiado pelos salários dos deputados e senadores e não pelo Poder Judiciário, para que haja um maior controle da sociedade.
- Há uma opinião no Congresso, da qual eu partilho, de que o teto deva ser o salário do deputado e do senador. Por quê? Ninguém sabe, na sociedade, de maneira geral, quanto ganha um juiz, quanto ganha um ministro do TCU, quanto ganham determinados setores do serviço público - disse.