Vinte e quatro anos depois os hoje senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Lindbergh Farias (PT-RJ) voltaram a participar de forma ativa no debate de um processo de impeachment. E novamente em campos opostos. O ex-presidente e o ex-cara pintada divergiram durante reunião interna sobre os procedimentos do processo no Senado, defendendo o contrário do que pregavam no passado. Collor quer que seja aplicado a Dilma Rousseff o mesmo rito que o tirou da cadeira em 48 horas. Lindbergh defende um processo mais longo agora, para evitar “atropelo”.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que decidiu pelo ritmo mais lento, ironizou o comportamento de Collor. “Tivemos o inusitado do ex-presidente Collor defendendo o rito de 1992”, comentou.
O ex-presidente fez uma leitura aos colegas dos prazos do processo que enfrentou e argumentou que como o Supremo Tribunal Federal (STF) balizou aquele procedimento como modelo não haveria porque dar mais tempo a Dilma. Para Lindbergh, é preciso dar espaço para a defesa se pronunciar tanto na comissão quanto no plenário e justificou sua mudança de posição. “Na época do Collor tinha consenso, por isso passou daquele jeito”, lembrou.
A participação de Collor foi um dos momentos de uma reunião de três horas, que foi tensa do início ao fim, entre os líderes da Casa para definir os critérios de escolha dos 21 membros da comissão e o calendário do início do processo.
A briga foi tanta entre utilizar o critério de bloco partidário ou o tamanho de cada partido que Renan teve que colocar a questão em votação. O placar foi 41 a 40 pela adoção dos blocos partidários. O resultado irritou o senador Alvaro Dias (PV-PR), que acabou de fora do colegiado. Ele não se conformou com o voto do senador Eduardo Amorim (PSC-SE), que apoiou a divisão por blocos mesmo sendo, assim como Alvaro, representante único de uma legenda. Amorim foi indicado como suplente pelo bloco liderado pelo PR.
O presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR), e o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), foram os que mais reclamaram na reunião da interpretação de Renan que levaria a instalação da comissão especial para a próxima semana. “O senhor será cobrado pela sociedade”, disse Jucá.
Caiado manteve os questionamentos, e Renan disse que o país estará “perdido” se for guiar-se pelo que o líder do DEM aceita ou não.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não aguentou, saiu no meio da discussão e desabafou. “Eles não conseguem nem decidir sobre a proporcionalidade com tantas coisas a decidir. Vou almoçar.”
No fim, Renan definiu como um erro sua tentativa de buscar acordo entre os lados cada vez mais opostos.
“O processo por si só é muito tumultuado. Vocês não sabem o que significou fazer uma mera reunião de líderes para decidir se a composição da comissão seria por bloco ou por partido. Caberia ao presidente decidir, mas eu quis democratizar a decisão e compartilhar com os líderes. Foi um horror, o que não recomenda nem que façamos uma segunda reunião - afirmou o presidente do Senado.”
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