Muito bem. Depois de um período na Europa, para onde viajou assim que estourou a crise na segurança pública do estado, o governador Beto Richa (PSDB) voltou. Foi logo assinando medidas justamente para a área de policiamento. Criou delegacias, batalhões da Polícia Militar, autorizou a contratação de mais policiais e a compra de mais 1,2 mil viaturas. Claro que são ótimas medidas. O policiamento no estado é fraco e precisa melhorar.
No entanto, ficou faltando alguma coisa. Richa ficou fora justamente nos dias em que o estado todo discutia as reportagens que mostraram problemas na polícia. Dois assuntos principais. Primeiro, dinheiro que sai dos cofres do estado e não chega a lugar algum. Quer dizer, a algum lugar chega, só não se sabe qual é essa destinação. O fato é que a grana (que é minha e sua, não custa lembrar) deveria pagar delegacias, e não paga.
O segundo assunto: policiais, tanto civis quanto militares, pegam as viaturas que deveriam estar sendo usadas para combater o tráfico, investigar homicídios e fazer rondas para passear. Vão às compras, levam os filhos na escola e um, mais ousado, chegou a ser flagrado com a viatura oficial em um bordel. Ou seja: enquanto a cidade tem 700 homicídios por ano, delegados vão ao prostíbulo com carro oficial.
Talvez alguém tenha esquecido de avisar tudo isso a Richa, sabe-se lá... Resolveram não incomodar o governador, talvez, para que ele tivesse tempo de curtir a Europa com mais calma. Mas o fato é que a única postura aceitável de um governante num momento como esse (sem falar na possibilidade de cancelar as férias, imagine!) seria a de voltar depois de tudo isso e falar duro. Mostrar indignação. Procurar a imprensa e deixar claro que isso não ficará assim. Que no governo dele delegado que vai às compras com carro oficial tem de ser punido.
Nada disso. Só o que se ouviu foi a louvação de como a segurança no estado está melhorando. O problema é que, se não houver punição e rigor, os agentes do Estado estarão autorizados a pensar que podem tudo e que nunca serão cobrados pelos seus erros. A coisa pode até piorar: se nem com um escândalo desse alguma coisa acontece, imagina quando tudo fica entre quatro paredes?
Liberou-se mais dinheiro para delegacias, dizem os anúncios do governo. Ótimo: mas, sem punição aos culpados, corre-se o risco de esse dinheiro ter o mesmo destino da verba anterior. Estão sendo compradas mais viaturas. Excelente: porém, se ninguém fizer nada quanto aos descalabros já mostrados, pode ser que esses carros logo sejam vistos em motéis ou onde mais der na telha de quem estiver nele. Contrataram-se mais policiais: e que exemplo eles terão ao entrar numa corporação em que tudo acontece e nada é punido.
Houve o afastamento temporário de função de dois dos bagrinhos denunciados. A cúpula da polícia, com oito denunciados, continua impávida onde estava. Quando acabará a investigação interna? E cadê a palavra dura do governador para mostrar que nada será como antes? Sem isso, corre-se o risco de a polícia e a própria casa da mãe Joana acabarem se confundindo definitivamente. E aí é cada um por si.