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Conheci Woody Allen, Ing­­­mar Bergman e Federico Fellini da mesma maneira. Paguei uns poucos trocados na porta de um cinema de rua mantido pela prefeitura de Curitiba, entrei numa sala (normalmente cheirando a mofo, é verdade) e assisti a grandes filmes. Filmes que mudaram a minha vi­­­da. E que mudaram a vida de muita gente que conheço.

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Ontem, fecharam o Cine Luz. O Ritz foi para o espaço antes disso. O Groff e o Guarani, então, nem me lembro mais há quanto tempo estão fora do circuito. Dos cinco ci­­­nemas que a prefeitura mantinha na cidade, sobrou a Cinemateca. Que, aliás, é o último cinema de rua da cidade. De resto, só em shoppings. De resto, só salas comerciais.

Curitiba ficou conhecida país afora (e até fora do país) por uma ou outra ousadia urbanística. A transformação da Rua XV em lugar exclusivo para pedestres é o exemplo mais famoso. Manter salas de cinema para que todo mundo possa conhecer os filmes que os multiplex se recusam a passar, até porque não dão lucro, é uma atitude, do meu ponto de vista, tão revolucionária quanto fechar uma rua para carros. É manter os olhos da cidade abertos para o mundo.

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Agora, isso está acabando. É uma pena. Sim, todas as salas tinham problemas de projeção, de som, de cadeiras pouco confortáveis. Mas a melhor solução não parece ser, não pode ser, simplesmente fechar e ficar anos à espera de uma possível reforma, de um futuro substituto. Há quantos anos se promete a reabertura do Guarani? Alguém acha que reinaugurar o Luz vai entrar na prioridade da atual administração? Será que sai mesmo da promessa?

É preciso ser justo: a gestão de Beto Richa trouxe avanços importantes para a área da cultura em Curitiba. A inauguração da Capela Santa Maria e a reabertura do Novelas Curitibanas são bons exemplos. A inclusão do critério de mérito nos editais para seleção de projetos a ser financiados é também uma excelente notícia (é inacreditável a quantidade de bobagens que já foram financiadas com dinheiro público antes disso).

Até mesmo a criticada decisão de acabar com a modalidade do mecenato para financiamento de projetos é uma sábia escolha. Até aqui, havia duas possibilidades na Lei do Incentivo municipal. Numa, o município dava dinheiro de um fundo, que reúne 1% do dinheiro de ISS da cidade. Justo. No outro, a prefeitura abre mão do mesmo ISS. Só que quem leva a fama é a empresa que, ao invés de pagar o imposto, destina o recurso para o projeto. Transferir tudo para o fundo elimina o vexame dos artistas de passarem de pires nas mãos nas empresas, e dá crédito a quem merece.

Mas a demora em reabrir espaços importantes é um problema grave nessa gestão. Certo, todo mundo sabe que cultura nunca foi a prioridade de nossos governantes. O orçamento é curto, é preciso dar conta de tanta coisa importante que uma sala de cinema pode parecer uma bobagem. Mas não é. Conheço dezenas de pessoas que se formaram em universidade pública, conheceram o melhor do mundo em bibliotecas gratuitas, frequentaram sebos e teatro subsidiado. Boa parte de nossos jornalistas, escritores, professores universitários aprendeu a pensar assim.

O fechamento de mais um cinema de rua, ainda mais especializado em bons filmes, nos deixa um pouco mais provincianos. Eu, pessoalmente, nunca vou me esquecer do dia em que entrei pela primeira vez no Luz, para ver A Era do Rádio. Se fosse hoje, talvez o filme nem entrasse em cartaz por aqui. Vida longa à Cinemateca. É o que nos restou.

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