Quem vê o site do deputado Onyx Lorenzoni fica sabendo porque ele se considera um liberal. Governo forte, diz ele na seção “no que eu acredito”, é sinal de sociedade fraca. Para que a sociedade seja forte (e o Estado seja fraco) é preciso acabar com a “fome de impostos”. É o discurso que tende ao Estado mínimo: que Brasília custe menos para que o resto do país tenha mais dinheiro.
Em busca da divulgação desse ideal da política econômica, Onyx, do DEM gaúcho, não poupa o dinheiro do contribuinte. No ano passado, segundo o site da Câmara dos Deputados, torrou quase até o último centavo a verba que podia extrair do bolso dos brasileiros. Gastou R$ 484 mil da cota de exercício parlamentar (teria direito a R$ 491 mil, mas deixou os R$ 7 mil para você e para mim).
Investiu o dinheiro liberalmente. A maior fatia, de R$ 54 mil, foi para manter um escritório parlamentar no Rio Grande do Sul - compreende-se: o custo do gabinete em Brasília não era suficientemente grande para manter a batalha contra Leviatã. Outros R$ 54 mil foram gastos com “divulgação da atividade parlamentar”, provavelmente ressaltando os feitos no combate ao gasto público.
Onyx não é o único a defender o Estado mínimo da porta do gabinete para fora. Suplente pelo Paraná, Paulo Martins (PSDB) assumiu como deputado por oito meses em 2016. No segundo mês de mandato, em abril, ultrapassou em mais de 50% a cota destinada mensalmente a cada parlamentar: foram R$ 64,1 mil em um mês.
Desse total, R$ 46 mil foram gastos só com pesquisas. Dois levantamentos queriam saber quais as opiniões dos eleitores de Curitiba e de Colombo sobre assuntos em trâmite na Câmara. No combate ao inchaço de gastos petista, o deputado se informou às custas do erário.
Democrata como Onyx, o paranaense Osmar Bertoldi, que passou nove dos 12 meses de 2016 na cadeia, terminando o ano com uma condenação por agressão à ex-noiva, voltou à Câmara em novembro tendo dois meses de cota parlamentar pela frente. Gastou o dinheirinho da Viúva basicamente tentando melhorar sua imagem.
À Caravelas Consultoria e Comunicação entregou R$ 15 mil para, entre outras coisas, ser informado sobre “riscos de posicionamento para a imprensa nacional com base em farto material da vida política do parlamentar”. Também pagou para que se elaborasse “questionário de perguntas e respostas para confecção de mídia training”.
Já à Consultoria Mariello pagou R$ 7 mil para que faça posts que mantenham a interatividade do deputado com seu eleitor. Bertoldi também comeu muito bem (novamente) à custa do contribuinte. Em novembro e dezembro, as notas de alimentação do deputado co dinheiro público somaram R$ 1,3 mil.
No Império, dizia-se que nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder. Na atual política brasileira, não há nada mais parecido com um estatista do que um defensor do Estado mínimo que tem a chave do cofre na mão. Vendo os gastos, ninguém saberia diferenciar qual é qual. O que muda, é claro, é o discurso.
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