Passou despercebido, em setembro passado, o quinto aniversário de falecimento de uma importante personagem da vida política brasileira. A Velhinha de Taubaté, criada por Luis Fernando Verissimo, faleceu oficialmente em 2005, depois de o caso do mensalão ter vindo a público. Nem ela, famosa por acreditar em todos os políticos desde Getúlio Vargas "até no Delfim Netto", ressaltavam alguns sobreviveu ao maior escândalo do governo Lula.
É pena. Seria interessante saber se a velhinha continuaria com sua capacidade de acreditar em tudo que se dizia. Por exemplo: nesta semana, alguém poderia perguntar a ela o que estaria pensando sobre a compra de um bloqueador de celulares para ser instalado na Assembleia Legislativa do Paraná.
Comprado por R$ 24,2 mil, o equipamento serviria, segundo o antigo primeiro-secretário da Assembleia, Alexandre Curi, para dar privacidade aos deputados. A antiga direção da Casa alegou ainda que, durante algumas reuniões os telefones celulares não paravam de tocar, o que causava incômodos e prejudicava o bom andamento dos trabalhos. Curi também diz que a ideia partiu de funcionários da Casa e que a Mesa (ele e o presidente Nelson Justus) só assinou o pagamento.
A velhinha, quase certamente, acreditaria em toda a história. Mas, já que ela não está mais entre nós, talvez fosse bom fazer uma ou duas perguntinhas. Por exemplo: não seria mais prático pedir aos deputados que desligassem os celulares? Ainda mais levando em conta que o equipamento em questão é de uso ilegal no Brasil fora de penitenciárias?
Por falta de crença na boa educação dos deputados, preferiu-se gastar R$ 24,2 mil em um aparelho ilegal? Parece pouco crível. E dificilmente alguém acreditará que a ordem para a compra não tenha partido da cúpula da Assembleia mais especificamente, dos próprios deputados.
Há um dado a mais a ser levado em conta. A licitação foi realizada em abril de 2010, poucas semanas depois de um dos maiores escândalos da história política paranaense ter vindo à tona: o Ministério Público, depois da série de reportagens Diários Secretos, chegaria à conclusão de que pelo menos R$ 100 milhões haviam sido desviados na Assembleia.
Seria coincidência a compra do aparelho nessas circunstâncias? Ou os deputados estariam nervosos com a possibilidade de suas conversas poderem vazar naquele momento? A falta de transparência, na época, era a tônica da Assembleia. Os desvios foram todos possíveis justamente porque os diários oficiais eram escondidos da população.
Depois do escândalo, com tudo vindo abaixo, o presidente Justus prometeu mais transparência. Mas na verdade a preocupação, ao que tudo indica, era sempre a de proteger os segredos que corriam nas salas de reuniões da Casa. Nem que para isso fosse preciso desperdiçar dinheiro público. Nem que para isso fosse preciso comprar um equipamento de uso proibido pela Anatel.
Verissimo fez mal em matar a Velhinha de Taubaté. Ela fazia um contrapeso importante à nossa descrença.
Descanso
Saio em férias por quatro semanas. Enquanto isso, quem assume a coluna e o blog Caixa Zero é Ricardo Marques de Medeiros. Sorte do leitor.
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