Quer saber quem vai governar o país daqui a dois anos? Bom, eleição é um troço imprevisível, certo? Mas há um palpite bastante razoável, desde já. Nada a ver com urnas manipuladas, nem com teorias da conspiração, ou com bolas de cristal. Basta olhar a história recente para saber qual será o resultado – e para descobrir que as chances são de nove contra um de que a nova eleição, em 2018, colocará no centro do poder, vejam só, o PMDB.
Sim, o PMDB de Michel Temer. Não que o atual presidente vá ser candidato. Mal e mal ele se elegeu deputado até hoje. Com a popularidade atual, não ganha nem concurso de sinhozinho em festa junina. E Temer nem deve ser candidato. Sua única chance de chegar ao poder era por uma artimanha não-eleitoral – ele sabe disso, e por isso se esforçou tanto para derrubar Dilma.
Mas o PMDB nunca precisou ganhar eleições para mandar no país. Em três vezes, deu “sorte” de o titular morrer ou ser derrubado – e de o vice ser do partido. (Sherlock Holmes dizia não acreditar que uma coisa acontecesse duas vezes por “coincidência”. Imagine três. Mas, de novo, sem teorias da conspiração). Quando não deu essa sorte, o partido governou do mesmo jeito.
Em 1994, por exemplo, o partido cometeu uma temeridade (sem trocadilho) que jamais repetiria. Lançou um candidato à Presidência: Orestes Quércia. Como bom peemedebista, não tinha votos para se eleger. Fernando Henrique levou fácil a eleição e, contados os votos, o PMDB decidiu que o apoiaria. Em 1998, aderiu a FHC logo de cara, para facilitar as coisas. Continuou no poder.
Em 2002, o PMDB foi de Serra. Perdeu. Mas quem disse que isso seria empecilho para continuar governando? Assim que houve a brecha, passou a ser base de Lula. E assim como tinha feito no governo de FHC, foi se infiltrando até que o governo passou a ter mais cara de PMDB do que de qualquer outra coisa. Pelo menos nas entranhas. Para o distinto público, claro, mantinham-se as aparências.
Em 2006, o PMDB ousou ir contra o PT. Perdeu e aderiu de novo. Em 2010, foi de Dilma e acertou de cara, facilitando o processo. Cobrou como preço ter a vice, repetida em 2014. Sabe-se hoje o que isso significaria… E dessa vez o partido foi chegando a postos cada vez mais fundamentais. O “cordão de isolamento” contra o fisiologismo do partido foi rompido: não só com a vice, mas com ministérios-chave.
Desde 1994, PSDB e petistas duelaram para ver quem conseguiria ficar “vinte anos no poder”. Só quem chegou à marca foram os peemedebistas. Não só na Presidência como no comando do Congresso, com Sarney, Renan, Cunha... Os dois partidos que se matam nas urnas viraram módulos que se encaixam no peemedebismo, a verdadeira base do poder central. São máscaras para um rosto que em geral prefere não se revelar.
Agora, o PMDB se viu em situação de, momentaneamente, tirar a máscara e governar sem artifícios. Será um período breve. Sem candidatos, sem afinidade com as urnas, sem jeito para esse negócio de eleição, provavelmente se colocará de novo discretamente à margem, como um apostador que primeiro assiste à corrida para depois montar no cavalo vencedor. E, montado nele, irá dominá-lo, como sempre dominou.
Dizem em Brasília que é impossível governar o país sem o PMDB. Recentemente também se descobriu que é impossível governar com ele – pelo menos, sem o tal cordão de isolamento. Manter o partido à distância certa, de onde ele possa se saciar sem querer engolir o governante é uma arte. FHC e Lula a dominaram. Dilma, não. Cada um escolheu o preço que pagaria. E uma coisa é certa: o peemedebismo sempre cobra seu preço.
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