1. Só a Justiça vai dizer definitivamente se Ribas Carli Filho foi responsável pela morte de dois jovens (torçamos para que a nossa Justiça seja realmente justa). Mas o simples fato de um deputado andar dirigindo sem carteira depois de acumular 130 pontos por infrações muitas delas gravíssimas torna eticamente impossível a sua permanência no cargo. Um deputado deve fazer leis e respeitá-las. É inimaginável termos no Legislativo alguém que se considera acima da lei.
2. Um dos princípios da tal "tolerância zero", a política que ajudou Nova Iorque a combater o crime nos anos noventa, é que a pessoa se comporta de acordo com o ambiente em que se encontra. Não se joga lixo no chão num local limpíssimo. Não se comete um crime grave numa sociedade em que nem os pequenos delitos ficam impunes.
Nossos deputados cometem todo tipo de infração. Mentem, apresentam notas frias para justificar gastos com verbas públicas, contratam de forma indevida, recebem dinheiro de maneira ilegal, votam planos de aposentadoria em benefício próprio durante a madrugada. Nada acontece com eles. E eles se sentem à vontade para ir cada vez mais longe. Até onde podem ir? Um acidente com dois mortos é o limite máximo?
3. O fato de a nossa Assembleia Legislativa não ter jamais cassado um deputado diz muito sobre o estado moral de nosso Legislativo. Quando ninguém é punido, ou é sinal de que as coisas vão muito bem ou de que a tolerância é alta demais. Qual será o caso da Assembleia?
Os deputados não sabem nem mesmo como tocar o processo. E mais: muitos dos deputados dizem que o caso de Ribas Carli não configura quebra de decoro porque não se trata de algo ligado à atividade parlamentar. A declaração é infeliz. A um representante do povo não basta ter decoro durante as poucas horas que gasta em plenário. É preciso ter conduta exemplar também fora dele.
4. É natural a revolta da população com os políticos em um momento como este. Afinal, perderam-se duas vidas. Adesivos, protestos, indignação, tudo isso faz parte. Curioso, porém, é que a mesma indignação não surja em outros casos. A corrupção que tira dinheiro de um hospital público mata ainda mais gente. O que nos deixa indignados é que, desta vez, a relação de causa e efeito foi mais visível. Mas se soubéssemos tudo o que realmente sofremos em função do descaso de nossa classe política, a revolta seria muito, muito maior. Seria insuportável.
5. A reportagem da Gazeta do Povo mostrou claramente o que diz a sabedoria popular. O fruto não cai longe do pé. O pai do deputado, o ilustre prefeito de Guarapuava, tem 42 pontos na carteira. Ao invés de assumir que cometeu erros, preferiu manter a carteira de motorista recorrendo à Justiça.
6. A família de um dos jovens mortos no acidente tem boa condição social e financeira. Teve como contratar um bom advogado, que fez barulho até onde foi possível. Obrigou os deputados a lidar com a possibilidade de julgar um de seus pares, conseguiu provar que existe sangue do deputado disponível para análise, etc. E se a vítima fosse outra? Tudo iria para debaixo do tapete?
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