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Será que o TSE tem as últimas campanhas eleitorais gravadas em vídeo? Pensei em requisitar as fitas para ver se em algum lugar da tela, talvez em letras bem miudinhas, apareça um texto que há muito tempo desconfio estar lá. Seria talvez a única razão para não chamar o Procon: um aviso de que aquelas promessas só seriam realizadas sob certas circunstâncias. Se não forem muito difíceis de cumprir, por exemplo.

Veja-se o caso do governador Beto Richa. Ainda me lembro de vê-lo na televisão dizendo que iria "fazer mais com menos". Vocês não lembram? Que iria "fechar as torneiras do desperdício" e que por isso sobraria dinheiro em caixa para realizar o que seus antecessores, aqueles incompetentes, não tinham conseguido. Era só uma questão de gestão, ora bolas.

Se puder ver as fitas de novo vou rastrear o vídeo em busca da frase perdida. Talvez ela apareça só durante um segundo. Porque, se não houver a frase explicando que aquilo tudo dependia das circunstâncias, como o governador poderá explicar o caos das finanças do estado? Não há como consertar uma viatura ou ambulância porque as oficinas não recebem o pagamento. O telefone da PM foi cortado por falta de pagamento. As obras não andam...

Richa anda dizendo que recebeu o estado em péssimas condições. E que o governo federal não liberou os empréstimos de que ele precisava. Portanto, não é culpa dele! Mas não me lembro de ver o candidato, três anos atrás, dizendo que "faria mais" apenas "caso conseguisse empréstimos". Talvez a condição esteja nas legendas miúdas.

Caso o TSE tenha guardado, talvez ainda estejam lá as fitas de 2002 e 2006. Aquelas em que Requião esbravejava contra o pedágio. Dessas vocês lembram, não? Ele dizia com todas as letras: "O pedágio baixa ou acaba". Requião ficou oito anos no governo. Já saiu faz três, e as concessionárias de pedágio continuam recebendo o mesmo de antes.

Requião alega que tentou, mas não deixaram. O Judiciário atrapalhou sua promessa! Parece um pouco o discurso do aluno que não conseguiu resolver o problema da prova, mas pede meio ponto por ter se esforçado. Talvez as letrinhas miúdas dissessem algo assim: "Tentaremos cumprir essas promessas. Caso seja muito difícil ou o Judiciário não facilite nosso trabalho, teremos feito nossa parte". Seria uma explicação.

E agora há o caso de Gustavo Fruet. Todos lembramos que ele prometeu 30% para a educação, não? Pois lá vem o segundo ano de sua gestão e nada! Claro, o discurso é de que não é fácil fazer isso e, veja bem, lá pelo quarto ano talvez haja novidades. Afinal, há problemas de caixa etc. Curioso que ninguém tenha percebido o locutor dizer baixinho no horário eleitoral que isso talvez ocorresse apenas no último ano do mandato, às vésperas da reeleição.

Dizem que a primeira vez que Juscelino prometeu construir Brasília foi a um eleitor comum. O futuro presidente disse que cumpriria a Constituição. O eleitor lembrou que a Constituição (na época, a de 1946) previa a construção de uma nova capital. JK teria dito que, sendo assim, construiria a cidade. Assim mesmo: sem letras miúdas. Foi lá e fez. Porque afinal é para isso que servem promessas, não?

Se os candidatos prometessem que fariam apenas nas circunstâncias ideais, de que serviria? As circunstâncias nunca são as melhores. Ou imaginavam que seriam fácil? Ou seria simples cinismo? Não pode ser. Tem que haver as letrinhas. Tem que haver.

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