Os deputados federais brasileiros torraram no ano da graça de 2016 nada menos do que R$ 48,9 milhões com “divulgação da atividade parlamentar”. Isso significa que, em média, cada deputado que o eleitor colocou em Brasília usou R$ 97 mil para contar que realmente merecia estar lá. No meio de uma recessão, não são muitas as empresas que tiveram orçamento tão generoso para fazer publicidade.
Quando uma empresa divulga seus produtos, o que espera é ter retorno financeiro, vender produtos. Quando um parlamentar divulga a sua atividade, o que tem para vender? A resposta é simples – seu número de urna, dali a dois ou quatro anos, quando tentará se manter com a chave do cofre na mão. Trata-se do mais evidente esquema de propaganda eleitoral paga com dinheiro público. E tente achar um deputado que não faça isso para ver.
O dinheiro serve para contratar todo tipo de comunicação. Agora, por exemplo, estão na moda os pagamentos a empresas de mídias sociais. Cada tuíte é pago por você. Os deputados também gostam de fazer panfletos para levar a seu domicílio eleitoral para contar vantagens de seus feitos.
Deputados, em tese, não têm um tostão para fazer obras. O que fazem é funcionar como atravessadores entre o eleitor, que não tem força de lobby, e o Executivo. São as emendas. E onde fica a verba de divulgação parlamentar nesse esquema? Funcionam como uma espécie de custo da intermediação.
No Paraná, quem mais gastou com a rubrica foi Sandro Alex (PSD). Foram R$ 228 mil para comunicar a seus eleitores os resultados do mandato. Em um mês, por exemplo, pagou R$ 12 mil para fazer dois anúncios no site Agora 1. “Sandro Alex dá mais um passo para tornar Santa Casa referência em oncologia”, dizia um. “Prefeitura irá implantar centro de iniciação esportiva na região do Sabará”, dizia outro.
O campeão de gastos em um único mês foi Hermes “Frangão” Parcianello (PMDB), que colocou R$ 96,6 mil em divulgação apenas no mês de setembro. Fernando Francischini (SD), um ideólogo do Estado mínimo, bancou com dinheiro público propaganda de seu mandato no valor de R$ 78,1 mil no último mês do ano, quando os deputados aproveitam para gastar até o último centavo o que lhes restou de cota.
Parece coisa de doido. O sujeito pede a alguém que use o dinheiro do contribuinte para construir aquilo de que o contribuinte precisa. Como recompensa por esse heroico serviço, ganha dinheiro para contar ao contribuinte que foi ele quem fez essa intermediação. Mas quem paga essa propaganda? O mesmo sujeito que, agora fica sabendo, só se aposentará depois de 49 anos de serviço porque não há dinheiro para mais nada nesse país.
Seria ilusório pensar que um dia os deputados vão fazer uma reforma política que preste e que realmente mude todos os problemas evidentes de Brasília. Mas podia haver um jeito de, pelo menos, acabar com parte dessa gastança desenfreada que se formaram os gabinetes parlamentares: um amontoado de dezenas de apaniguados com verbas estatais na mão que têm como principal função garantir a reeleição de seu chefe.