Reza Aslan é um intelectual americano. Sua família veio do Irã. Especialista em religião, fala como poucos sobre o Islã. Nesta semana, depois do anúncio de que cidadãos de sete países muçulmanos seriam barrados nos Estados Unidos, seu país de adoção, ele gravou um vídeo. Apelou diretamente a Paul Ryan, presidente da Câmara dos Deputados.
Lembrou que Ryan, durante a campanha, tinha criticado duramente Donald Trump. Disse que jamais toleraria a proibição à chegada aos muçulmanos por violar os valores americanos – mesma proibição que agora ele apoia.
Aslan lembrou a Ryan que os ancestrais do deputado chegaram aos Estados Unidos fugindo da fome na Irlanda quando os irlandeses eram vítimas de grande preconceito. Dizia-se que não se podia ter lealdade ao mesmo tempo ao Vaticano e aos EUA. “Os irlandeses eram tão pouco confiáveis que se criou um partido com base em um sentimento de anticatolicismo e especialmente contra os irlandeses”. O slogan do partido? “Os EUA em primeiro lugar” – uma frase repetida por Trump em sua posse.
Agora, que os Ryan foram aceitos e geraram o terceiro homem mais poderoso do país, pergunta Aslan, o que ele fará? Aslan conta que quando foi se tornar cidadão americano teve de fazer um único juramento. Que defenderia os EUA contra ameaças internacionais ou domésticas. “Há uma ameaça a esse país agora, e ela está na Casa Branca. O que você vai fazer sobre isso?”, pergunta Aslan.
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Philip Roth é autor de um dos romances que mais têm sido citados como possíveis bases para entender o horror do governo de Donald Trump. Em Complô contra a América, ele imagina que o famoso aviador Charles Lindbergh podia ter sido eleito no lugar de Franklin Roosevelt nos anos 30. Antissemita, Lindbergh estaria no poder justamente no momento da ascensão do nazismo.
Em e-mails trocados com a revista New Yorker, Roth, que é judeu, comentou a possível semelhança do cenário distópico que criou com a situação atual. E disse que Trump parece mais difícil de imaginar como presidente do que Lindbergh.
“Achei alarmante ser um cidadão durante os mandatos de Richard Nixon e George W. Bush. Mas, independente do que era visto como suas limitações de caráter ou de inteligência, nenhum deles era nem de perto tão pobre no aspecto humano quanto Trump: ignorante em relação a governo, história, ciência, filosofia, arte, incapaz de expressar ou de reconhecer sutileza ou nuance, destituído de qualquer decência, e munido de um vocabulário de setenta e sete palavras que seria melhor chamar de idiotês do que de inglês.”
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Justin Trudeau é o primeiro-ministro canadense. Ao comentar no Parlamento o assassinato de seis muçulmanos, não apenas demonstrou solidariedade, mostrou compaixão. No mundo dominado por Donald Trump, rumando rapidamente para a islamofobia, é um alento ouvi-lo.
Trudeau, um defensor do multiculturalismo, afirmou que o que aconteceu no Quebec foi sem dúvida um ataque terrorista. E disse aos cerca de um milhão de crentes islâmicos do país que os 36 milhões de cidadãos canadenses sofrem com eles. Disse que o Canadá estará ao lado dos muçulmanos – mas disse mais. “Vamos amar vocês.”
Sim, é possível falar de amor, ainda hoje, ainda que se trate de política.
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