“Eu jamais seria oportunista, quero deixar muito claro isso. Em momento algum eu agi de maneira oportunista. Muitas vezes dizem: ‘Ah, o Temer quer assumir a Presidência’. Mas eu não movo uma palha para isso.” A frase do novo presidente da República data de 3 de setembro do ano passado.
Neste sábado, quando Michel Temer já estará finalmente livre da mulher que o levou ao centro do poder, a declaração completa um ano. Hoje seria difícil achar quem creia nela – seria necessário recorrer a um lunático ou a um peemedebista. Temer, é evidente, comandou a campanha pela queda de Dilma. Batalhou votos para isso. Fez promessas. Jogou o jogo pesado. Venceu.
Mas a vitória é triste. Triste foi o governo Dilma, mais triste ainda o seu fim. Mas nada se compara à tristeza de um governo que chega ao Palácio sem votos, tendo arquitetado um plano em conluio com o Congresso para derrubar a presidente. Que a oposição fizesse esse papel: é do jogo. Que a população pedisse: ótimo. Que de dentro do Palácio alguém tenha arquitetado tudo isso é desalentador.
Triste é um governo que começa com desaprovação gigantesca, típica de presidentes em fim de mandato. Temer toma posse com desgaste igual ao do PT após 13 anos de poder (e dois escândalos de grandes proporções). Temer jamais teria votos para se eleger sequer senador. Antes de ser resgatado do limbo, quase perdeu a eleição para deputado federal. Deus sabe o que ele foi capaz de fazer para chegar aonde agora chega.
Temer foi escolhido para a vice por ter como aproximar do governo petista o PMDB fisiológico que o acompanha sempre – justamente por saber os benefícios que ele garante a quem está com ele. Em 2010, foi pego prometendo que todos “partilhariam” do governo Dilma. Agora, a partilha está totalmente em suas mãos. Que o Ministério Público nos proteja.
Triste é um governo que começa a atuar todos os vícios e nenhum dos méritos de seus antecessores. O fisiologismo permanecerá, é evidente. Essa é a base da plataforma eleitoral de Temer. Não tendo de recorrer ao convencimento dos eleitores – que jamais escolheriam alguém com essas propostas – reduziu-se a prometer o que dele esperavam os 513 deputados e os 81 senadores de que dependia para chegar à Presidência. Bem se sabe o que a maioria deles quer.
Por outro lado, sem precisar passar pelo crivo do eleitorado (esse processo tão démodé), Temer pôde chegar à Presidência com um programa de governo exatamente oposto àquele em que os brasileiros votaram. Corte de direitos, arrocho, retrocesso em políticas sociais e de redução da pobreza. Pior, e mais triste: a promessa (!) de não gastar um centavo a mais em educação, saúde, habitação, saneamento. Não só no seu governo, mas por 20 anos.
Temer é uma figura triste na história política nacional. Símbolo do fisiologismo, do oportunismo, da traição, da falta de caráter, da busca desenfreada pelo poder. Ícone do que há de pior no pragmatismo que põe tudo e todos como pavimento para chegar ao cargo máximo. Epítome do desprezo do político brasileiro pelos desejos do eleitor e pela democracia.
Pense você o que pensar de Dilma e de seu governo. Pense o que pensar do impeachment. Michel Temer é um novo vale na breve história da nossa democracia.
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