As novas reportagens sobre a Câmara de Curitiba revelaram não apenas como funcionavam os esquemas de cada vereador em particular. Mostraram também como funcionava a distribuição de poder dentro do palácio Rio Branco. Em última instância, deram uma pista importante de como João Cláudio Derosso (PSDB) manteve o poder por tanto tempo sobre seus colegas de Câmara. No total, antes da queda, foram oito mandatos de presidente, quase 16 anos. Por quê?
O princípio da resposta pode estar na malfadada verba de publicidade da Câmara. Mais especificamente, pode estar na declaração de Algaci Tulio (PMDB), que explicou que toda a bancada de radialistas ganhava um dinheirinho para se manter no ar. Funcionava assim: Derosso avisava a todos que tinha o dinheiro. Quem tinha rádio, jornal ou programa comparecia ao guichê e levava o seu. Ainda que fosse com nota falsa.
O esquema, segundo o próprio Algaci, permitia que os vereadores comprassem espaço no rádio. Compravam assim uma tribuna para manter contato direto com os ouvintes. Que, não coincidentemente, têm título de eleitor e são obrigados pela lei a comparecer às urnas a cada dois anos. Ou seja: ganhavam horário de graça no rádio, pago com dinheiro de nossos impostos. O que Derosso ajudava a comprar para os vereadores, se ficar comprovada a declaração de Algaci, era a própria reeleição deles.
Instaurada a bolsa-reeleição, era lógico que os vereadores não teriam disposição para comprar briga com o patrono do seu ganha-pão. O resultado podia ser visto a cada dois anos, quando Derosso, usualmente em chapa única, conseguia o apoio quase unânime de seus satisfeitos colegas para permanecer no posto. Por que outro não poderia exercer o papel? Essa é uma outra dúvida que ainda não foi resolvida.
Na última reeleição de Derosso, em novembro de 2010, o tucano conseguiu 30 dos 38 votos para se manter no cargo. Quatro vereadores decidiram se abster os três do PT e mais Juliano Borghetti, do PP, casado com a vereadora Renata Bueno(PPS). A própria Renata disse que não compareceria por se tratar de "um jogo de cartas marcadas". Outros dois (Roberto Hinça, hoje no PSD, e Aladim Luciano, do PV) não compareceram por estar licenciados. E o Professor Galdino (PSDB) não compareceu e não disse por quê.
É claro que os radialistas, embora sejam uma bancada relevante, não explicam a totalidade dos votos pró-Derosso. Para ganhar o apoio dos demais, o que o presidente da Câmara fazia? Eis a grande pergunta que surge à beira da reeleição de todos os 38 membros do Legislativo.
Asfalto
Falando em moeda eleitoral, a prefeitura de Curitiba acaba de enviar para a Câmara um projeto pedindo a abertura de crédito de R$ 25 milhões. Vai virar tudo asfalto, se os vereadores aprovarem. Adivinhe se eles vão aprovar? É a chance de dizer que eles conseguiram uma melhoria no bairro do cidadão, às vésperas de pedirem voto. Poderão dizer que participam da atual legislatura, mas fazem.
De resto, a prefeitura informa que os R$ 25 milhões surgiram de excesso de arrecadação nos primeiros meses do ano. O dinheiro vai ajudar a aumentar ainda mais a desproporção de obras do gênero neste ano em relação aos três anteriores. Mesmo antes de surgir o dinheiro extra, seriam 597 quilômetros de asfalto em 2012 contra 367 em todo o resto do mandato.
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