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Os olhos de Curitiba se voltam neste momento para três vereadores. Eles podem não ter percebido, mas estão incumbidos de uma missão fundamental para a cidade: dirão se a Câmara Municipal é ou não uma instituição digna de crédito da população. Se o conjunto de vereadores sabe ou não responder aos critérios de ética e transparência que a população exige.

Os três vereadores são Francisco Garcez, Jorge Yama­­waki e Pastor Valdemir. O primeiro é o presidente do Con­­selho de Ética da Câmara. Os outros dois foram designados como relatores dos dois processos em que o eterno presidente do Legislativo municipal, João Cláudio Derosso, é investigado.

A tendência, num parlamento pequeno e ultracorporativista, como é o caso da Câmara de Curitiba, é pensar sempre que uma denúncia contra o mais poderoso dos vereadores da cidade, aquele que é reeleito há uma década e meia para a presidência da Casa, vai terminar em pizza. Os vereadores juram que não será assim.

Ontem, quase marcaram seu primeiro gol. Tinham cogitado, 24 horas antes, fazer uma sessão secreta para ouvir Derosso. A história de que seria para "preservar a intimidade" do presidente não pegou bem. E a coisa mudou de rumo. Agora, a sessão será aberta. Seria o fim dos segredos na Câmara?

Ainda não. A bola bateu na trave. A decisão do conselho foi ouvir o depoimento em duas partes. A segunda será fechada. Nela, serão feitas as perguntas sobre o relacionamento entre Derosso e sua atual esposa, Cláudia Queiroz Guedes. Ela é o motivo de parte das suspeitas que pesam contra o vereador: sua empresa, a Oficina da No­­tícia, ganhou uma licitação (sem enfrentar concorrentes) e ficou com o direito de gerir R$ 5 milhões em verbas de publicidade da Câmara.

Qual o motivo de fazer uma sessão fechada para falar sobre o relacionamento que, no fim das contas, é a maior razão das suspeitas contra o vereador? Os curitibanos têm todo o direito de saber se em 2006, quando foi feita a licitação, Cláudia e Derosso já namoravam. O presidente da Câmara jura que tudo não passa de uma enorme coincidência.

Ninguém quer saber de confidências íntimas do vereador. Não há motivo para se discutir "a intimidade do casal". O que se quer saber é somente o que foi feito com o dinheiro que nós confiamos à Câmara, pagando nossos impostos.

Segredos devem ser exceção na vida pública. O que se pede é que a Câmara tenha mais transparência, não menos. E o ideal seria que os cidadãos pudessem acompanhar toda a investigação, sem que nada fosse feito a portas fechadas. A luz do sol, já disse alguém, é o melhor desinfetante que existe.

Garcez, Valdemir e Yama­­­waki, porém, ainda podem mostrar que a Câmara sabe se comportar quando é o caso de julgar um dos seus. As denúncias contra Derosso são graves. É claro que ele deve ter todo o direito de se defender. Mas assim como seria errado tolher a sua defesa, seria igualmente errado impedir a população de ver um julgamento justo.

No dia 21 o conselho entrega o resultado de sua investigação. Saberemos aí o tipo de Câmara que a cidade tem. Antes disso, resta esperar.

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