Corre-se o sério risco de os ônibus de Curitiba continuarem sendo pilotados por motoristas que dão o troco ao mesmo tempo em que dirigem. O sindicato das empresas de transporte público se manifestou formalmente sobre o assunto. E, claro, pediu para que os vereadores não proíbam a dupla função dos motoristas de micro-ônibus.
Os empresários enviaram comunicado aos vereadores dizendo que o projeto de Denílson Pires (DEM) não faria bem à cidade. A ideia básica da proposta é que o motorista, vejam só, se restringisse a olhar para a frente enquanto conduz o busão. Do ponto de vista dos empresários, um verdadeiro retrocesso. Algo a ser evitado.
O discurso dos donos das empresas é bonito. Ideal, dizem, seria a bilhetagem eletrônica. Todos usariam apenas cartões com créditos. Dinheiro seria proibido como forma de pagamento, o que até ajudaria a reduzir o risco de roubos e assaltos dentro dos ônibus. Cobrador, dinheiro e troco para os passageiros? Coisas do passado.
Maravilha. Os patrões têm razão. Em Nova York, por exemplo, a coisa funciona assim. O passageiro compra o bilhete ou cartão. Ou então deposita o dinheiro numa máquina que conta o dinheiro automaticamente. Não há troco nem cobrador. Com um detalhe: o motorista, a todas essas, cuida do trânsito.
Por aqui, ninguém fala em proibir o uso do dinheiro. As empresas e a Urbs até falam em mudanças para breve na bilhetagem eletrônica. Mas admitem que a extinção do troco nos coletivos daqui está, no mínimo, distante. O vereador Denílson Pires, que propôs a nova lei, parece ter a resposta certa para o assunto. "Ninguém é contra a bilhetagem eletrônica. O que não pode é a dupla função do motorista colocar o passageiro e o pedestre em risco."
Ou seja: a comparação com Nova York, Tóquio ou sabe-se lá que outra metrópole só fará sentido se o passageiro daqui puder ter um motorista preocupado em tempo integral em não atropelar o vizinho de bairro. Enquanto o usuário tiver de usar capacete e joelheira para andar de ônibus, o argumento não vale.
Resta ver se os vereadores ousarão desrespeitar um pedido das poderosas companhias de transporte coletivo. Até pouco tempo atrás, elas tinham influência como nenhum outro setor sobre a Câmara. O que elas pediam, literalmente, era a lei.
Agora, depois da licitação, há vereadores dizendo que a influência das empresas de ônibus diminuiu. O "grande mal" que os vereadores podiam fazer a seu negócio já foi superado: elas agora têm contrato de pelo menos 15 anos garantido com o poder público. O laço entre as duas partes, portanto, estaria mais fraco. Será? A ver.
Na verdade, porém, sabe-se que o que está por trás da discussão toda é o aspecto econômico da decisão. A conta do vereador Denílson Pires é que as empresas, com o sistema atual, estão economizando os salários de 750 cobradores. Como cada um ganha pouco mais de R$ 800, elimina-se uma despesa mensal da ordem de R$ 600 mil por mês só em salários. Como contrapartida, os motoristas que passam a se arriscar mais no trânsito passam a receber 10% de acréscimo no fim do mês.
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