Não há como negar que Valdir Rossoni está aproveitando razoavelmente bem a sua segunda chance. Os escândalos que estouraram no ano passado, com os Diários Secretos, mostram que a primeira passagem do deputado por um cargo de comando na Assembleia, como primeiro-secretário de Hermas Brandão, passou longe de "moralizar" alguma coisa para usar a expressão de que o deputado tanto passou a gostar recentemente.
No entanto, nesta semana, o deputado vacilou. Ao ser indagado por repórteres sobre as novas licitações que está fazendo, teve um pequeno chilique. Perguntavam sobre as horas de voo que o deputado quer comprar e sobre os carros (alguns de luxo) que pretende alugar. Rossoni não gostou. "Querem saber a cor da minha cueca também?", foi sua resposta.
Rossoni tentou ser irônico. Acabou sendo apenas grosseiro. Uma resposta possível para a pergunta do deputado seria a seguinte: o senhor só precisaria explicar sobre sua roupa íntima se tivesse comprado com dinheiro público. Comprou? Espera-se que não. Portanto, faz delas o que bem quiser, sem precisar explicar nada a ninguém. Nem a cor, nem qualquer outro atributo da cueca há de ser de interesse público. Os aviões e os carros serão pagos com dinheiro público, não? Por isso há que dar explicação, sim.
Abaixo do equador, é sempre difícil, porém, convencer os homens públicos de que eles não têm o direito de negar certas informações, de que devem, sempre, prestar contas do que fazem como nossos representantes. Tudo tende para o secretismo.
Veja-se o recente exemplo da autoridade máxima do Executivo estadual. De repente, no fim de uma manhã de maio, chegou aos jornais a notícia de que o helicóptero em que o governador Beto Richa estava quase caiu. Foi em São Paulo. No momento, claro, todos se preocuparam em saber se não havia feridos, se todos estavam bem.
Depois, vieram as dúvidas: ninguém sabia que o governador estava em São Paulo. O que ele estava fazendo lá? Que reunião era aquela com um banco privado de investimentos que não havia sido divulgada? Quem havia fretado o helicóptero? Foi o Estado que pagou? As perguntas foram feitas há mais de um mês e até agora ninguém se dignou a responder.
Acima dos trópicos, a coisa é diferente. A ex-governadora do Alasca Sarah Palin que o diga. O atual governo do estado que ela comandou foi obrigado a tornar públicos todos os e-mails dela durante o mandato. Claro, os que ela escreveu como governadora, usando contas e computadores públicos. Palin, possível candidata à sucessão de Obama e queridinha dos radicais de direita, diz que não tem com que se preocupar: os e-mails, segundo ela, não contêm nada demais "embora muitos deles não tenham sido escritos para consumo público".
Em democracias amadurecidas, o segredo é exceção. Aqui, os políticos ainda chiam quando se quer saber algo sobre sua atuação pública. Tratam as perguntas como se fosse algo pessoal. Mas não é assim: eles estão lá apenas como nossos representantes. E como todo servidor público, têm o dever de responder a seus patrões, que somos nós.
Mas só sobre o que interessa. As cuecas, deputado, não são o caso. Pode ficar tranquilo.
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