O deputado Nelson Justus, presidente da Assembleia, apareceu no horário eleitoral gratuito defendendo sua reeleição. Para justificar o pedido de voto, partiu para o ataque. Disse que "tentaram sujar seu nome e o de sua família". Mas ele "não cedeu às chantagens e transformou a Assembleia Legislativa". Disse mais. Que agora precisa de votos para livrar o Paraná "dos hipócritas e dos falsos moralistas".
O discurso, exibido no rádio e na tevê, é vazio como a maior parte das explicações dadas pelo deputado até hoje sobre os escândalos da Assembleia Legislativa. Deixe-se claro: Justus é o presidente da Casa no momento em que se descobriram os maiores descalabros com dinheiro público já registrados no Paraná. Diários secretos, funcionários fantasmas, desvios de dinheiro público: tudo isso veio à tona nos últimos meses.
Agora, Justus faz o papel de vítima. Diz que houve chantagem. Não diz de quem, nem como ocorreu. Diz que é vítima de "hipocrisia" e de "falsos moralistas". Mas não provou, pelo menos até agora, que houve qualquer injustiça contra ele.
Justus reclama sempre que não se dá o devido crédito a ele pelas mudanças que fez na Assembleia. Aproveite-se o momento para isso, então. É verdade: durante sua gestão, o Legislativo ganhou o painel de presença dos deputados; o Portal da Transparência; a TV Sinal; os deputados deixaram de ganhar jetom por sessões extraordinárias; e algumas outras melhorias importantes.
Poderia defender assim sua candidatura. Dizendo o que fez e o que pretende fazer. Preferiu o caminho mais fácil, da vitimização. Entrou no jogo baixo dos políticos que, por se acharem intocáveis, condenam imediatamente qualquer um que lhes critica. A denúncia a desvios de conduta é entendida como ataque pessoal. E, em vez de tentar provar a própria inocência, afirma-se imediatamente que o que está acontecendo é uma conspiração.
Justus diz que há hipocrisia nas denúncias contra ele. E que os problemas da Assembleia "vêm de muito tempo". Se é essa a hora de acabar com a hipocrisia, por que Justus não diz quem era responsável pelos problemas antes de sua gestão? Por que não diz o nome do antigo presidente, ou do primeiro-secretário, ou do político que dominava a Assembleia e que originou todos esses problemas?
Diz que o problema são os "falsos moralistas" que o acusam por problemas que lhe são anteriores. Mas o argumento é frágil. Justus pode tentar emplacar a retórica da "herança maldita" recebida de seus antecessores. Mas, convenhamos: dez anos se passaram desde que ele assumiu a presidência da Assembleia pela primeira vez. Mesmo na hipótese improvável de que fosse impossível resolver todos os problemas nesse tempo, Justus tinha a obrigação moral de ter vindo a público mostrar o que havia encontrado de errado. Faltou-lhe o que, nos outros, chama "falso moralismo"; e que nós, na vida real, chamamos simplesmente "moralismo".
O que sei é o seguinte. Não me considero hipócrita, nem falso moralista. Mas, deputado Justus, se o senhor elegeu para inimigos, em nome de sua reeleição, as pessoas que fazem questão de trazer a público os desvios de conduta encontrados na Assembleia, peço-lhe um favor. Inclua-me nesta lista.
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